quinta-feira, 16 de junho de 2011

A PAREDE BRANCA

Um dia reparei numa parede enorme
pintada de fresco mas velha e disforme;
então algo me captou a atenção!

Esta parede reflectia a minha imaginação,
um grande e usado livro alvo por escrever,
tudo o que eu quisesse lá podia ver
e então continuei, atento, a observar...

A parede, que a uns estaria a estorvar,
para outros a sombrejar e para mim,
esta parede que parecia não ter um fim,
serviu para me contar uma história!
Esta parede é a minha grande memória,
que de tão cheia está logo se esvazia
e descansa, perene, e se atrofia
numa brancura impenetrável...

E eu observo-a e é-me agradável
e faço dela, só para mim, uma tela
gigante onde passam sobre ela
filmes a que só eu posso assistir!

Vejam como não consigo resistir
a esta improvável sessão de cinema,
a este inverosímil conto sem tema,
a este vazio que aqui te descrevo,
a este mar branco de alto relevo;
enfim, isto é apenas a minha grande sede,
sede de escrita sobre uma branca parede...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

ODE AO VENTO

vuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
vuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
vuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
(som do vento)

Vento...
Fecho os olhos e sinto o vento,
lembro-me desse belo sentimento
que me invocas quando me acaricias,
quando com a tua frescura me delicias,
Sempre que passeio à beira-mar
E me lembro que já fui pessoa de amar...

Sinto...
Fecho os olhos, abstraio-me e sinto
o mesmo prazer que só a ti agora consinto,
Quando, de leve, os cabelos me afagavam,
e como o queriam, e como gostavam,
e como me fazes sentir de novo a voar
e na memória o teu sussurro a ecoar...

Então abro os olhos e olho para o horizonte,
vejo o passado a renovar-se defronte,
sinto o que de melhor já senti novamente
e consigo, só contigo, ficar contente...

Brisa...
De olhos abertos a lacrimejar de brisa
que de tão suave os meus sonhos realiza
é a sensação que outrora tive com outrém,
é a beleza perdida que em mim se contém,
é agradibílissima e sinto-me volátil
ao sentir de ti esta velha sensação táctil...

Sorvo...
De olhos e boca abertos te sorvo
vento meu que me afastas o estorvo
de ter de ter alguém para me deter
quando te tenho para me entreter
e entretanto sinto-me tanto e rodopio
envolta em ti, meu amor, meu vento frio...

Então fecho os olhos e me introspecto,
descarrego a adrenalina e vem directo
da memória, do coração; tudo se mistura,
e este meu bem-estar só connosco perdura...

12-06-2011

domingo, 12 de junho de 2011

Pescador

Lança a tua cana
Espera pelo  peixe
Fica atento
Que ele aparece
Quando menos esperas...

Lança-a outra vez
Que o isco desapareceu
E o peixe foi-se...

Não desistas
Que a chumbeira permanece...
Não desistas
Que a água passa sempre sem parar
E o peixe nela
Não  abranda...

Não adormeças, reflete!

Na tua vida...
Na tua cana
Na tua pesca...
Em ti...

E a água que passa
Passa sem voltar...
E a cana dobrada
É assim puxada
Pela presa que se debate
Sem pensar...

Tu és um pescador!
Sentirás, também, a dor
Mas não te deixarás pescar...
Pois tu és um pescador...

12-06-2011