sexta-feira, 25 de maio de 2012

Palavras, acções e a beleza em tons ortográficos...

As palavras são apenas palavras...
As acções é que mudam vidas...

Mesmo que comuniquemos as acções,
estas se não se concretizam
não são, enfim, acções...

Portanto, para quê um blogue?

Com certeza que as palavras,
porventura,
ficam.
E as acções, talvez,
sejam mais etéreas.

Ou não.

Pois as acções, que mudam vidas,
vivem naqueles cujas vidas mudaram
enquanto que as palavras
vivem apenas quando as lemos,
eventualmente resistindo um pouco mais,
na memória, de quando em vez,
quando, fora da regra,
nos captam a atenção.

Não sei, como de costume,
o que estou aqui a escrever
mas escrevo...

E quem isto ler talvez se pergunte:
"o que está ele a escrever?",
e só posso responder:
tenho escrito.

Escrever é uma acção, certo?

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Portanto é isso

Portanto é isso.
Como eu já esperava.
Na verdade, nem pensei em outra hipótese que não esta.
E ainda assim haveria muitas outras hipóteses...
De resto, tudo fixe?
Nunca pensei que chegasse a este ponto.
E no entanto tudo me parece tão claro.
Um dia, e um dia não são dias, direi toda a verdade.
Eventualmente...
A verdade deve ser dita todos os dias.
Toda a verdade.
Nada mais do que a verdade.
Não há aqui espaço para a imaginação.
Apenas espaço para a verdade.
Pura.
Dura.
Crua.
Nua.
Assim mesmo.
Insípida.
Inodora.
Invisível.
Não, visível é.
A verdade é visível.
A verdade devia ser visível.
Vê: verdade.
Admiro mesmo aquelas pessoas que persistem a pedalar na bosta.
Na ilusão de sair da pocilga.
Quando conseguirem estarão sujos.
Tomarão um banho e continuarão a cheirar mal.
Mas acho que sim, que devem tentar.
Talvez com muitos banhos.
Com muito perfume.
Com muita água a correr...
Era isto.
Sem tirar nem colocar.
Era mais ou menos isto.
Sem querer lá chegar.
E num canto isolado via-se bem a luz.
E a luz tremia...
Luz.
Que se reduz.
Que se renova.
Luz da Lua.
Luz da Lua sobre o Mar.
Luz.
Luz...
Luz...

quarta-feira, 2 de maio de 2012

A Jangada de Pedra - José Saramago

Já ouvi críticas muito positivas e muito negativas sobre a literatura do nosso único Nobel da Literatura e então nada como ler eu próprio e tirar as minhas conclusões.


Quis o destino que "A Jangada de Pedra" se cruzasse comigo (obrigado Belinha, proprietária deste pedaço de destino e Ana Paula, veículo do mesmo) e, perante esta obra que me surgiu sem qualquer esforço da minha parte, fiz a única coisa que me pareceu razoável e capaz de agradecer a gentileza das minhas amigas supracitadas: li-a.

Levei este exercício um pouco mais além e partilho convosco uma pequena reflexão pessoal sobre a mesma, assim como pequenos pedaços desta obra interessantíssima. Como foi o meu primeiro contacto com Saramago (não, não li o "Memorial do Convento", para os meus lados calhou-me a "Aparição"), corro sempre o risco de estar enganado pelo enviesamento da minha amostra: pode sempre ter-me calhado um livro muito bom do autor e o resto não o achar tão digno do meu elogio mas este livro é-o, sem dúvida. Gostei do estilo da escrita, da velocidade, do ritmo que o autor imprime, é directo e sincero, belo e sentimental, estou tentado a ler mais da obra de Saramago mas estou extremamente satisfeito com este começo.

Gostei muito deste livro. No geral não tenho qualquer crítica negativa a apontar. Gostei do fim, comoveu-me... Para mim, este livro fala do destino, da vida e da morte, do princípio e do fim, das inevitáveis sucessões de que a vida é feita... Uns morrem, outros nascem; tudo muda mas a vida continua. Como? Não se sabe...

Deixo-vos algumas citações de que gostei particularmente:

"Ela pegou na mala, ele tirou-lha da mão, Podemos deixá-la no meu quarto, mais o pau, O pau não o largo, a mala levo-a também, talvez não seja conveniente voltar aqui, Como quiser, pena é que a sua mala de viagem seja tão pequena, metia-se-lhe o pau dentro, Nem todas as coisas nascem umas para as outras, respondeu Joana Carda, o que, apesar de óbvio, comporta não pouca filosofia."

"com a autoridade nunca se deve ser irónico, ou não percebem, e não valeu a pena, ou percebem, e será muito pior"

"Ninguém foge ao seu destino, pode sempre acontecer que nos venha a calhar, subitamente, o destino doutra pessoa"

"ainda há quem não acredite em coincidências, quando coincidências é o que mais se encontra e prepara no mundo, se não são as coincidências a própria lógica do mundo."

"É bem certo que as pessoas vivem ao lado dos prodígios, mas dos prodígios não chegam a saber nem metade, e sobre a metade conhecida o mais comum é enganarem-se, principalmente porque querem, à viva força, como deus nosso senhor, que esse e os outros mundos estejam feitos à sua imagem e semelhança, para o caso pouco importando quem os fez."

"de mais nos tem ensinado a experiência quanto são insuficientes as palavras à medida que nos aproximamos da fronteira do inefável, queremos dizer amor e não nos chega a língua, queremos dizer quero e dizemos não posso, queremos pronunciar a palavra final e percebemos que já tinhamos voltado ao princípio."

"a verdade está sempre à nossa espera, chega o dia em que não podemos fugir-lhe."