sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Kairos

Tempo, dando tempo ao tempo,
tento ter tempo para o resto,
presto-me ao que me atempo,
atento ao tempo que empresto,
ultrapassando cada contratempo,
ao que penso que ainda presta,
ainda que isso venha a destempo
como a paciência que me resta...
Que festa, esta, que de mim se alimenta,
tenta, esquece o tempo passado,
fado, forte e feito de tormenta,
aguenta, o futuro é tão desejado
dado o momento que a gente enfrenta,
a mudança de paradigma e sentimento,
tento, e até consigo, enquanto aguenta
a chama que vive para o teu vento...
Vendo, de olhos fechados sem ser cego,
pego na esperança que o vento agita,
grita o grito de revolta a que me apego,
nego a paz que num certo tempo habita,
acredito nas competências que te delego
e logo é tempo de rever a participação,
são vicissitudes que levo quando me relego,
junto ao ego a tempo da minha realização...


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Não sei.

Não sei que mais te diga,
talvez nem diga tudo o que consiga...
Não sei se é loucura ou fadiga
ou uma simples dor de barriga...
Não sei e não sei se posso saber
se é algo possível de perceber...

Não sei se devo acreditar
ou se me deva irritar
pois nem sempre se acredita
na pessoa que mais irrita
e nem se houve uma mensagem
que foi lida durante a viagem...

Não sei mas tento adivinhar
se amanhã vamos definhar,
pode ser um sinal de fome
mesmo quando à mesa se come,
a tensão baixa sem comprimidos
e logo se perdem os sentidos:
o sentido do equilíbrio correcto,
o sentido do ser circunspecto,
o sentido da precoce imaginação
e o sentido da nossa realização.

Não sei mas se soubesse dizia
o que por vezes nos causa a azia;
será o marisco estragado?,
será o líquido estagnado
ou será simplesmente a solução
que tomamos para a constipação
que nos assola neste momento
em que começa a soprar o vento?

Até sei mas finjo que não sei
pois fico-me pelo que já pensei,
e sinto que posso estar certo
mas se penso é tudo tão incerto
que a certeza é um mito urbano
e só estou certo que me engano...

Digo que não sei mas e se souber?
Esconder-me-ei onde couber?
Se sei não sei como o posso expressar
quando nem sei o que se está a passar!
Passado um pouco de novo desconheço
as razões para tudo ter um preço,
as razões para ser tão elevado;
haverá um momento desenganado
em que os saldos desçam à cidade
e comprarei montes de verdade
para saber tudo aquilo que quero
e para saber se fui mesmo sincero.

Não sei e se soubesse saber não queria
pois a verdade consegue ser tão fria
que às vezes só apetece pode-la aquecer
com um abraço que só pode desaparecer
quando o sol brilha de novo no horizonte.
E se se desfaz já nos encontramos defronte
da fonte de todos os nossos anseios,
olhos penetrantes de humores cheios,
inquietos e fugidios como a paciência
que é preciso para se fazer a ciência
e que devia ser facilmente controlável
mas que é tão volátil e instável...

Não sei se não devia ter já parado,
afinal já passou um bom bocado,
e as horas passam de outra maneira
quando a conversa não é passageira,
quando a viagem não conhece destino,
quando a fé contacta com o peregrino
e o milagre surge e não se acredita
pois a visão é demasiado bonita
para poder ser uma realidade!
Diz-me, por favor, o que é a verdade?
Diz-me pois eu nunca sei e não saberei
as palavras que não mais encontrarei
para completar os poemas inacabados!
E então para mal dos meus pecados
não posso completar as velhas obras
à espera desses sinos que dobras
e ouço o vagaroso bater das horas
e atento pois sei como te demoras
e agora mergulho num silêncio profundo
e vou observar os males do Mundo.

Não sei se era bem isto,
não sei se já foi visto
ou se era suposto
mas relembro um rosto
que também não sabe
onde quer que este poema acabe...
Não sei...
Não sabes...
Quem sabe?

Não sei...

Ao sabor duma época nutricionalmente desequilibrada.

Sabes que uma vez fiz sonhos para uma
e como essa vez não há mais nenhuma,
posso fazer mais, e com frequência,
que sonhos passados são de outra essência.

Se a receita não pode ser repetida
como queres doçuras nesta vida?
Se corre bem e nunca mais se repete
como executar o doce que se promete?

Um dia vais sentir a volatilidade
e vais sucumbir à vulnerabilidade
da época dos frescos ingredientes
e vais perceber por que o sentes.

Nesse dia vai ser possível acreditar
que um dia vai haver bem-estar
e se calhar tudo o resto fará sentido
quando pensares no que podia ter sido.

É simples demais para nele ter reparado,
um mimo também é doce ao ser recordado,
até as saudades são formas de nutrição
quando as sentes e sabes por que o são.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

why...

I don't know why...
I don't know why...
Why do I realize?
I don't know why!
One day I will know.
One day I'll show.
One day I'll go!
To the mountains and fly,
to the rivers and cry,
to the end but why?
Why if I realize
that was a bunch of lies
flying around!
I love butterflies
but I can't leave the ground!
I love flowers
when they bloom,
I hate the hours
when you gloom...
And then I realize
I was seeking lies,
I was seeking disease,
feeling the sea breeze,
feeling the sea cold
and no one to hold!
I don't know why!
Tell me, please, why!
If I do realize
these are not lies!
I see the shore
and what for
if the way is so away...
I want to stay...
I want to stay...
I want to say
that I want to stay...
Not only today
but every day!
If all these were lies
let me realize
that I must live a dream
and catch the sunbeam
and hold you so tight...
And if I was not right?
I will tell the same old story
and one day I'll reach the glory
of the days of sunrise!
That's why I realize
that nothing were lies
but just if I could know why...



A luz no escuro.

Há luzes na sombra
que te assombra,
que te ensombra
e te torna obscura!
Ri, chora, procura:
a luz, a da ribalta!
Dança, grita, salta
e encontra o teu lugar!
Em frente, sim, devagar,
estás a chegar,
é mesmo aí, à direita,
essa porta, espreita!
Que vês? Descreve.
Nada disso, algo breve,
quero ter uma ideia
do que se estreia
para lá da cortina!
Em surdina,
que é segredo,
sei que tens medo
da verdade,
de verdade,
compreendo...
Depreendo,
contudo,
que não é tudo
o que tens a dizer.
Que fazer?
Desconheço
mas apareço
amarelecido,
apodrecido,
escarificado
e sei o que dizes:
são cicatrizes
do tempo ido
e tenho vivido
na esperança
e na cobrança
do que procuro,
a luz no escuro...

A chuva ácida no rio doce.

Doce é o rio que banha a tristeza
pois suga-lhe toda a sua doçura,
corre grosso e privado de frescura
pois a saturação já o retesa.

Na foz é travado p'la incerteza,
a peste obscura p'rá qual não há cura,
não desagua ou avança, satura!,
ecossistema que não se reveza!

Água mole em pedra dura, era outrora,
agora a água dura em pedra mole
não encontra líquido que a console.

Chove agora ácido, o gás evapora
mas a solução nunca se dissolve;
um rio é tudo aquilo que o envolve...