quarta-feira, 21 de março de 2012

FELIZ DIA DA POESIA! :)

Deixo-vos com um dos meus poemas favoritos...

Os versos que te fiz

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
...
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

Florbela Espanca

quinta-feira, 15 de março de 2012

Os olhos no céu, as janelas abertas

Os olhos no céu, as janelas abertas,
os aviões passam e a vida avança,
reveste-se o fim duma fina esperança,
ouve-se de alguém as palavras certas...

Mentes dispersas, ideias desertas,
tão certas quanto as de uma criança,
inocentes e absurdas; ninguém descansa
quando, por amor, do amor não despertas...

Sente-se na voz e naquilo que mentes
como funciona o coração realmente,
contrário à lógica a nós ensinada;

não mais te ouvirei, por mais que tu tentes,
um dia serei outro ser mais contente
se bem que pareça que parto do nada...

segunda-feira, 12 de março de 2012

CONSULTÓRIO SENTIMENTAL

Brevemente neste blogue!

terça-feira, 6 de março de 2012

Só um momento

Só, num momento de paz,
vejo em ti uma ilusão,
olho de novo e satisfaz
só de saber que não há razão
para me iludir de novo por nada...

Só, num momento de luz,
vejo sobre ti uma emoção
que supostamente não me seduz
porque sei como as coisas são
e o recomeço é uma coisa complicada...

Só, num momento que não sabes,
vês em mim o olhar da paixão,
ocupas um lugar onde não cabes
e retribuo o olhar para o chão
que ambos pisamos de perna cruzada...

Só, num momento estranho,
vês o que não quero que se veja,
a estrada é longa como o tamanho
do sentimento que toda a gente inveja
e entreolhamo-nos de forma depreocupada...

Apenas.

Queria escrever, apenas...
Apenas queria escrever.
Tenho dito...
Bem, mas queria escrever
e não sabia bem o quê.
Então alguém me disse:
"Escreve apenas!"
E eu escrevi!
E fui mesmo bem comportado
e não me senti nada mal
pois, enfim, já está escrito!
E continuo a querer escrever
e sem saber o quê!
Mas mesmo para quem não sabe
ainda não parei,
o que é deveras interessante,
esta capacidade, vá, de escrever sem tema!
"Quem disse que tudo o que escrevemos tem de ter um sentido?" -
e tens toda a razão!
E agora estou a lembrar-me de garrafas!
Garrafas vazias! Vazias, com ar, vá!
Garrafas transparentes, ligeiramente esverdeadas.
Não, ligeiramente azuladas!
Não, também não... Incolores!
E nessas garrafas vazias de líquido havia ar!
Ar! E nada mais mas chega. E o ar é leve!
Leve! E as garrafas elevam-se no ar!
E são misturadas com as nuvens
e um dia choverão garrafas cheias de ar!
Suavemente cairão e será bonito!
Mas que estou para aqui a escrever?!
Não sei mesmo...
Será que alguém lê isto?
Ritinha, ao menos tu!
Só de ti espero algo! Vê lá!
Vê lá ao nível a que isto chegou!
Escrever para ti, sobre ti, sobre ti,
sobre ti como sobre uma folha, quis dizer,
uma folha que se reutiliza vezes e vezes sem conta!
E quando a tinta já é tanta que o fundo não se vê...
Muda-se de cor!
E então pode-se escrever mais!
Eu aproveito e desenho também.
Já desenhei melhor mas ainda se percebe
que tentei desenhar o meu estado de espírito;
percebe-se, não se percebe?!
Acho particularmente claro desta vez...
Está lindo! Poético!
Gosto, nomeadamente, daquele risco oblíquo,
bastante revelador...
Enfim, já nem sei desenhar,
só sei escrever...
Só sei...
Sei...
Sim...
Sim, sei!
Não sei se sei...
Sei lá se sei...
Quem quer saber?
Escrevo, apenas.
Percebes?
Até tu perdes o sentido?
Pois, como eu.
Não tenho mais a dizer...

Detesto isto!

Não, não detesto.
É viciante, é isso...
Que perda de tempo...

quinta-feira, 1 de março de 2012

Florbela Espanca vive numa Charneca em Flor e escreve-me um Livro de Mágoas...

Anda-me dar muitos abraços.
Quero sentir o teu corpo quente junto ao meu.
Não faças o meu coração em pedaços,
não sou a Julieta, não te quero para Romeu,
esses morreram cedo mas tu vives e és meu!
Meu! E só podes ser meu! Porque eu quero!
E sabes que, acredita em mim, não exagero
quando digo que és tudo para mim,
sim, és tudo para mim, meu querubim,
minhas asas de anjo, meu toque de seda,
não há maior desejo que me conceda
qualquer génio da lâmpada das arábias
do que as tuas lições tão sábias!
Oh meu professor! Meu mestre de tantas horas,
se soubesses como contigo as demoras
são o meu tempo predilecto! Oh e a vontade,
a vontade que se faz prazer de ansiedade,
na esperança que o tempo não mais passe
e que mais o meu amor, minha perdição, me abrace!
Abro a cama à tua agradável presença,
fecho os olhos e ouço a tua sentença,
castiga-me a teu belo prazer pois mereço
tudo o que tu me fazes com tanto apreço
e desapareço do mundo para viver contigo
e só a ti admito esse teu severo castigo
que me soa a liberdade e me soa a paraíso,
que me traz a felicidade, o prazer e o riso,
que me escancara as portas para a redenção:
captar mais um minuto da tua boa atenção!
E como eu sonho mais e mais e sonho a cores,
como é tão bom suportar estas fortes dores
que só tu me infliges, como vetusta tradição,
que sigo sem pensar como louca perdição
e me desgraço, oh sim, desgraço-me... por ti...
Porque não és meu e até isso sempre te consenti...