quinta-feira, 21 de março de 2013

I CAMPEONATO NACIONAL DE POESIA - Jornada V

"Eis o desafio desta semana:
Um homem está diante de si dizendo que vai suicidar-se. Escreva, usando não mais de 300 palavras, o poema que gostaria de lhe ler para que mudasse de ideias."


Sabes que eu já estive desse mesmo lado
e alguém teve comigo esta mesma conversa?
Tens tanto talento e vai ser desperdiçado,
tens tanto a viver e estás com tanta pressa…
Hoje e aqui sou o mesmo raio de luz,
tu és as mesmas trevas impenetráveis,
a dois é mais fácil carregar a cruz
e o destino é cheio de imponderáveis:
como se pode perder a curiosidade!?,
saber o que amanhã nos vai despertar,
hoje é negro e sufoca-te de ansiedade,
amanhã será puro prazer e bem-estar!
Por que pensas que é tudo mau na tua vida?
Será que já viveste tempo suficiente?
Claro que não pode haver quem por ti decida
mas podes ter uma decisão consciente!
Eu sei que dói e que não vês esperança,
nem um motivo para enfrentar o presente,
mas lembra-te que um dia foste uma criança
e essa alegria pode voltar de repente!
Essa corda laçada é só um brinquedo
e há brincadeiras que são tão perigosas…
Não há problema algum em ter medo
e até há espinhos nas mais belas rosas!
“Viver assim infeliz não há quem possa,”
- pensas agora e vasculhas a memória -
“não há desgraça maior do que a nossa!”:
acalma-te! e escuta bem a minha história:
Um dia eu estive desse mesmo lado,
hoje considero-me uma pessoa feliz,
tive sorte, um amigo!, e por ele fui ensinado:
o melhor que me aconteceu? Não ter o que quis!
E um dia também vais passar esta mensagem:
viver pode ser difícil mas tu tens essa coragem!

(3-1-2013)

quinta-feira, 14 de março de 2013

I CAMPEONATO NACIONAL DE POESIA - Jornada IV

"Eis o desafio desta semana:
Escreva, usando não mais de 300 palavras,um poema que contenha a seguinte expressão: “sou do tamanho de todo o mundo”."


Ora, essa é mesmo a grande questão!
É uma nova forma de estar na vida,
talvez um regresso ao primitivo,
o contacto com a natureza, o respeito mútuo…
Uma parte anarquia, uma parte comunismo;
ainda estou a pensar como o definir
e se é de facto novo ou algo que já existe…
Sou uma pessoa e penso que posso mudar:
evitar as guerras, acabar com a fome;
talvez seja demasiado idealista, aceito,
talvez nunca possa acabar com o preconceito,
e com as classes sociais e com a miséria,
mas chegam notícias que me deixam a pensar
Que mundo é este em que habito?!
O meu jardim está bem cuidado,
as flores desabrocham lindas como sempre,
mas se eu continuar a marcha até ao infinito,
até àquele rio a milhares de milhas daqui,
até àquele ecossistema fundamental para mim
e que nem sei sequer que existe,
estarão bem como eu estou?! Somos iguais!
Átomos, moléculas, poeira cósmica!
Uma gota de água? Sou eu!
Um rio? Sou eu.
Uma nuvem?
Sou eu!
E és tu!
E somos todos!
Uma erva que cospe oxigénio para mim?
Devo agradecer! Devo preservar! Amo!
É tão semelhante a mim! Morre. Nasce. Vive.
Se tenho consciência para que me serve
se não para ter consciência da realidade?!
Sou um emissário da mais cândida pradaria,
um raio de luz, um trovão, sou o vento!
Sou do tamanho de todo o mundo
e sou belo na minha essência!
Somos todos um!
Hoje vou ser feliz no mundo em que nasci,
no sistema solar que me abriga,
no universo que me aconchega,
na existência que partilho com todos
nesta mesma dimensão, neste tempo.
Sim, acredito em algo,
numa ordem natural e comum ao todo,
a todos,
penso que se pode chamar assim.
É esta a minha religião;
fui suficientemente claro?

(27-12-2012)
(este foi o meu poema mais bem classificado no campeonato)

sexta-feira, 1 de março de 2013

I CAMPEONATO NACIONAL DE POESIA - Jornada III

"Eis o desafio desta semana:
A sua melhor amiga vai partir – e ficará sem a ver
durante muitos anos.
Escreva-lhe, usando não mais de 300 palavras, um
poema de despedida."


Que se pode fazer
quando se sabe que vai acontecer
aquilo que não queremos?!

Quando nos vamos voltar a ver,
alguma vez mais?!
Talvez uns anos, dizes…
Como vou sobreviver?
Com quem vou tomar um café
e contar todas as novidades?
Já sinto saudades
de quando nos chateamos…

Aprendi de bocas fraternas
que as verdadeiras amizades são eternas…
A memória permanece
mesmo quando a noite escurece
e leva o nosso brilho no horizonte…
E eu pergunto: para quê?!
Não quero viver de memórias
e assim a tua luz apaga-se para mim!

Um dia vou acordar
e não será um pesadelo,
estarás mesmo longe…
E por mais que eu tente,
por mais que eu faça,
nada te vai trazer de volta…

Olharei para o mar
até onde a vista se perde
e não terei qualquer esperança.
Um dia vou descobrir
que perdi a minha melhor amiga
e que me vai custar imenso…

Até lá espero adormecer
na vã ilusão
de um até amanhã
mais longo do que a própria memória.
É tanta a vontade que não partas
como a vontade de te esquecer
assim que entrares naquele avião…

Se um dia voltares
e se nos encontrarmos
quem seremos nós?
Não sei se quero saber…

O mesmo destino que hoje te leva
que amanhã te traga
com todas as respostas!

Os anos serão segundos,
o café estará a arrefecer
e o mar revolto acalmar-se-á.
Vais sorrir para mim e dizer:
“Dormiste bem?”

(20-12-2012)

I CAMPEONATO NACIONAL DE POESIA - Jornada II

"Eis o desafio desta semana:
Escreva, usando não mais de 300 palavras, um poema que
comece pela palavra “tudo”."


- Tudo me pressiona, ultimamente:
crise, indecisão, “Por que não emigrares?!”,
“És a mudança!”; o primus inter pares
que salva a anciã geração, demente.

“ Tudo em mim se espera, fico doente,
tudo me deprime mas não repares…
Sim, vamos sair, assim mudo de ares;
desculpa-me, não me vais ver contente…

“ Será isto crescer? O ser adulto?
Podia não aceitar, é verdade,
e assim fugir da responsabilidade!

“ Para quê o dinheiro? Ou até ser culto?
Podia dizer que não mas fico mudo,
não se pode dizer que não a tudo…

(13-12-2012)

I CAMPEONATO NACIONAL DE POESIA - Jornada I

"Eis o desafio desta semana:
Imagine que celebra, hoje, 45 anos de união com a
pessoa que ama e sempre amou.
Escreva-lhe, usando não mais de 300 palavras, um
poema."


Bem, sempre apreciámos a sinceridade
e nada melhor há do que a amarga verdade,
e já que entre nós nunca houve cá mariquices…
Eu dizia piadas, esperava que te risses!

Se ainda tenho tudo isto na memória
vou continuar a escrever a nossa história:
eu pensei que seriam só mais umas fodas,
sempre assim foi e também não te incomodas,
a beleza nunca faltou, nem sequer o charme,
como acreditar que um dia ias amar-me?

Como tu e eu sabemos, nada é perfeito,
nem para nos aturarmos temos qualquer jeito,
tu nunca me dás paz, como é que eu relaxo?!
Ou é uma vassoura pelas costas abaixo,
ou são discussões, uma distracção frequente,
por isso temos uma filha delinquente!
E um belo rapaz, pai pela décima vez!
E a culpa é nossa, como é que não o vês?!

Quem diria que um dia seríamos avós
e os nossos filhos respeitariam a nossa voz
sem qualquer reacção contestatária?!
Há dias em que a experiência é necessária!

Não somos católicos mas casámos na igreja,
a tradição, e os pais, impõem que assim seja:
vestida de branco, qual mulher submissa,
desde então nunca mais ouvimos uma missa;
vestido de negro, à empregado de mesa,
há algumas fotos, aconteceu de certeza!

Bons e maus momentos, frios, quentes e mornos,
eu sei muito bem que já me puseste os cornos;
jurei negar-te o sexo durante todo um ano
mas então lembrei-me que eu também me engano…
Herrar é umano, perdoar-te é divino;
lembras-te quando nasceu o nosso menino!?

Nada correu mal pois nunca fizemos planos,
será que já passaram quarenta e cinco anos?!
Detesto aturar-te com esse mau humor
mas o tempo passa… e acredito que é amor!

(6-12-2012)

Campeonato Nacional de Poesia

Há uns dias participei no primeiro Campeonato Nacional de Poesia (http://campeonatodepoesia.blogspot.pt/). Fiquei na segunda metade da tabela final de pontuações. Não gostei particularmente dos desafios propostos mas teve a sua graça participar... Não gostei particularmente dos poemas vencedores em cada jornada mas a poesia é tão subjectiva... Obrigado a todos os que me acompanharam ao longo do campeonato, incentivando, inspirando, criticando e lendo... Restam dez poemas que vou aqui publicar!