quinta-feira, 29 de abril de 2010

POEMA 30

CARTAS

A cartomante deitou as cartas
Para prever o nosso destino
O que aqui se passa não imagino;
De que fim, mulher, nos apartas?

De que nó nossa vida desatas?
Porque é que eu perdi o tino
E acredito neste falso divino
E nestas filosofias baratas?

Não há cartas que nos adiantem
Quando o destino está traçado
E outra hipótese não se tem

Há que encarar pois não há qualquer ser
Nem mago, nem espírito alado
Que possa mudar o que tiver de ser

(28/3/2005)

POEMA 29

PAIXÃO EM TRAÇOS LEVES

Sinto a paixão nos traços tão leves
Com que escrevo estas palavras carinhosas
Sinto a leveza do teu cheiro a rosas
Que inspiro devagar em momentos breves

Vejo-te bela e pura como brancas neves
Assim brancas como as tuas mãos carinhosas
Que sinto debaixo de árvores frondosas
Onde um apaixonado passeio me deves

E sinto-me tão bem! Olhos brilhando
À medida que em sonhos te revelas
Majestosa como te estou imaginando

E só quero mesmo uma explicação
Porque é que todas as coisas belas
Que adoro só existem na minha imaginação?

(6/4/2005)

POEMA 28

DESTINO

Pouco falamos e nunca nos vemos
Muito me custa pois tanto te admiro
Se o sentes sabes a que me refiro
Este destino que não percebemos

O pouco tempo que nunca temos
É ansiado em cada suspiro
Saudades pesam sempre que respiro
Destino porque nos intrometemos?

E pergunto-me o nosso destino
E de quem o saberá senão nós
O fio da lâmina é tão fino...

Estamos sós e sempre afastados
Não me sentes, não ouves a minha voz
Destinas-me a imaginar bons bocados?!

(23,24/3/2005)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

POEMA 27

UM DESEJO MAIOR QUE A ARTE

Preciso sempre de uma meta
E sempre que possível um tema
Escrever poesia é um problema
E também a motivação predilecta

A minha mente não se quer quieta
Após isto não mais será a mesma
Qualquer desafio deve ser o lema
Para a sobriedade que a vida acarreta

E se este desafio implica
Fazer o que gosto de fazer
A minha alma fica mais rica

E com estas palavras acariciar-te
Além dum desafio é um prazer
E um desejo maior que a arte

(28/3/2005)

POEMA 26

O ÚNICO DESAFIO

Agora que o mundo está contra mim
Sinto-me fraco e só definho
Quem me dera não estar sozinho
Agora que sinto chegar o fim

Por este caminho que não vim
E este imaculado amargo vinho
Em que não toco pois caminho
Com o fim de não ser assim

Não me deixes cair em tentação
Pois sabes bem do que sou capaz
Ajuda-me a alcançar outra dimensão

Penso só em ti em quem confio
Nesta nova era em que não há paz
Manter-me vivo é o único desafio

(29/3/2005)

POEMA 25

A MÁGOA, OS REMORSOS

A inspiração escapa-me entre os dedos
Era inevitável chegar este momento
Já chega de soturnidade e sofrimento
Mas não consigo exorcizar os medos

Estou duro e frio como os penedos
Ao pé do mar! Erodidos pelo vento,
Água... Só esta mágoa erodir tento
Mas a vida prendeu-me em seus enredos

Inspiração que se evaporou devagar
E que me chupou até ao tutano dos ossos
Pois entendeu que eu lhe devia pagar

Grandes dramas sejam os vossos
Agora que às palavras me vou desligar
Fiquem vocês com a mágoa, os remorsos...

(6/4/2005)

domingo, 18 de abril de 2010

nada a dizer

Não sei o que dizer...
A sério que não sei...
Nem sei o que fazer...
E se até agora rimei
Foi mesmo por acaso...
Não façam caso...
Às vezes também temos de saber,
Por muito que custe a perceber,
Que não há nada para dizer...
"Os bons vi sempre passar
no mundo graves tormentos;
e, pera mais me espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
o bem tão mal ordenado,
fui mau; mas fui castigado.
Assim que só pera mim
anda o mundo concertado."
Camões

As folhas caem

As folhas caem, devagar,
Caem sempre, e devagar,
E caem em qualquer lugar;
As folhas caem, inevitavelmente!
Caem folhas e estou presente,
Caem folhas constantemente,
Caem e não se levantam mais!

Se há tantas folhas iguais
Por que me razão dói mais
Quando caem folhas que amo?
Folhas que para mim reclamo...

"Altruísmo egoísta" é como chamo
À vontade de mudar o destino.
Se nem aprendo o que ensino
Como posso ser por vós ouvido,
Se o destino está tão bem decidido
E mais folhas têm, assim, caído?

quarta-feira, 14 de abril de 2010

POEMA 24

NÃO BEM, NÃO MAL

Nada mais me ocorre para expresssar
Aquilo que sinto! Não me sinto bem
Como outrora me sentia mas também
Não me sinto mal como estou a pensar

Já sobrevivi quando tive de atravessar
O deserto do meu passado! Acabem
Com a minha confusão! Digam se sabem
Porque é que me estou sempre a passar

Se já não sinto a calma de antigamente
E mesmo assim permaneço sereno
É porque devia estar inconsciente

O clima tornou-se afável, ameno...
Só eu é que nunca fico diferente...
Sinto-me sempre mal, sinto-me pequeno

(6/4/2005)

POEMA 23

INÚTIL

A vida era mais fácil quando estavas presente
Tinha sentido e eu estava feliz
Tinha tudo o que sempre na vida quis
Eras aquilo que procurava incessantemente

O destino traçado fatalmente
Para merecer isto que é que eu fiz?
Quero uma resposta mas ninguém me diz
Porque é que me arrancaram tudo de repente?

Só sei que me sinto tonto e mal
Já não tenho vontade de viver
Porque é que eu não sou um animal?

Que vive sem quaisquer sentimentos...
Se não te posso mais sentir e ver
De nada me serve recordar os bons momentos

(30/3/2005)

POEMA 22

AGORA QUE NÃo PODES APARECER

Agora que não podes aparecer
Lágrimas correm em todo o momento
A realidade encara-se com sofrimento
A única hipótese é um renascer

Há que mudar para se vencer
Não o queria mas agora tento
Pois continua em ritmo lento
A vontade do retorno do teu ser

A realidade é por vezes mais forte
Do que aquilo que mais desejamos
E que só se realiza por sorte

É esta vida que vamos caminhando
A honra vem se não paramos
É melhor desaparecer do que ir definhando...

(28/3/2005)

terça-feira, 6 de abril de 2010

POEMA 21

LIQUIDEFEITO

Lágrimas escorrem de olhos escuros
Que te vêem para lá do infinito
O mar é vasto, pleno, bonito
Mas por ele só caminham os puros

Só percorro os caminhos mais duros
Mas para te alcançar nada evito
És a minha deusa, musa e mito
E também a razão dos meus agruros

Porque é que ainda finges ignorância
Porque me inundas de violência
Porque te permites esta distância?

Porque recusas tantas verdades
Se sabes que nado em resistência
Mas afundo-me num mar de saudades...

(24/3/2005)



("liquid" from www.chopperdanceblog.com)

POEMA 20

CHUVA LÁ FORA

Detesto hoje que está a chover
Porque fico frio e molhado
Se pelo Sol tivesse esperado
Não cumpriria o meu dever

Na vida não deve de haver
Um outro tão perfeito estado
Que a Natureza, que tenho reparado
Que age como me tem feito ver

Hoje que não podes estar comigo
Já não há qualquer perigo
Venham chuvas e inundações

A meteorologia são corações
Quando o meu coração por ti chora
Vê as lágrimas na chuva lá fora...

(14/4/2005)



("rain" from www.static.bethsoft.com/blog)

POEMA 19

ROSAS ESPINHOSAS

Diz-me de que são feitas as rosas
Se de pétalas, cheiro ou espinhos
Diz-me: porque estamos sozinhos
E porque temos vidas espinhosas?

Vida, gozamos-te ou tu nos gozas?
Quando pões flores nos caminhos
E nos confundes com carinhos
De inacessíveis flores vistosas

Para que nos dás a beleza
Se com espinhos a proteges
Se de a ter não temos certeza?

Porque me deixas ver a flor
Se apenas tu as leis reges
E não deixas que haja amor?

(16/3/2005)


("rose thorns" from www.photos.somd.com)

pt. IV?

Isto das partes do livro é novo para mim também. Não arranjei os poemas aleatoriamente mas não estive com estas preocupações de divisão por partes, há 5 anos atrás...

Há 5 anos atrás estive no Jardim Botânico a ver umas tulipas com aquela a quem fiz os poemas... Voltei lá esta semana e havia de novo tulipas. Há cinco anos atrás estavam bem mais bonitas! Enfim, um sítio que me marcou e que inspirou algumas dos poemas que aqui vão estar. Continua bonito e recomendo a quem gostar de flores e beleza e .

Cinco anos e nem tudo mudou felizmente. Cinco anos e tudo mudou felizmente. Cinco antes e nem tudo mudou infelizmente. Cinco anos e tudo mudou infelizmente.
Dependendo dos dias cada uma destas quatro frases faz sentido. Ainda faltam 82... Poemas...

Talvez me falte um encosto

Talvez me falte um encosto
Talvez...

Talvez me falte um rosto
Talvez o veja outra vez
Talvez...

Talvez me falte um bom descanso
Talvez...

Talvez me chegue o que alcanço
Talvez mais do que a vocês
Talvez...

Talvez seja esta a última vez
Talvez...

Talvez seja esta a primeira
Talvez mais uma noite inteira
Talvez mais um dia arrastado
Talvez mais um sono adiado
Talvez...

Talvez seja esta a derradeira
Talvez durma a noite inteira
Talvez esqueça todo um sonho
Talvez mais uma que componho
Talvez...

Talvez não te ligue um ovo
Talvez comece tudo de novo
Talvez...

Talvez, talvez, talvez:
Essa palavra outra vez!

Talvez eu até perceba metade
Talvez eu não saiba a verdade
Talvez eu tenha feito este poema
Talvez eu tenha um problema
Talvez...

Talvez eu já tenha jantado
Talvez eu já tenha almoçado
Talvez eu não tenha sequer fome
Talvez seja eu quem te come
Talvez...

Talvez na cabeça esteja demais
Talvez esteja a cabeça até a mais
Talvez numa frase seria tudo dito
Talvez chegasse mas não acredito
Talvez...

Talvez eu tivesse tanto a dizer
Talvez tudo se resuma ao prazer
Talvez a vontade de reconquistar
Talvez a certeza do meu bem-estar
Talvez...

Talvez um dia...
Talvez...

06-04-2010