terça-feira, 6 de março de 2012

Apenas.

Queria escrever, apenas...
Apenas queria escrever.
Tenho dito...
Bem, mas queria escrever
e não sabia bem o quê.
Então alguém me disse:
"Escreve apenas!"
E eu escrevi!
E fui mesmo bem comportado
e não me senti nada mal
pois, enfim, já está escrito!
E continuo a querer escrever
e sem saber o quê!
Mas mesmo para quem não sabe
ainda não parei,
o que é deveras interessante,
esta capacidade, vá, de escrever sem tema!
"Quem disse que tudo o que escrevemos tem de ter um sentido?" -
e tens toda a razão!
E agora estou a lembrar-me de garrafas!
Garrafas vazias! Vazias, com ar, vá!
Garrafas transparentes, ligeiramente esverdeadas.
Não, ligeiramente azuladas!
Não, também não... Incolores!
E nessas garrafas vazias de líquido havia ar!
Ar! E nada mais mas chega. E o ar é leve!
Leve! E as garrafas elevam-se no ar!
E são misturadas com as nuvens
e um dia choverão garrafas cheias de ar!
Suavemente cairão e será bonito!
Mas que estou para aqui a escrever?!
Não sei mesmo...
Será que alguém lê isto?
Ritinha, ao menos tu!
Só de ti espero algo! Vê lá!
Vê lá ao nível a que isto chegou!
Escrever para ti, sobre ti, sobre ti,
sobre ti como sobre uma folha, quis dizer,
uma folha que se reutiliza vezes e vezes sem conta!
E quando a tinta já é tanta que o fundo não se vê...
Muda-se de cor!
E então pode-se escrever mais!
Eu aproveito e desenho também.
Já desenhei melhor mas ainda se percebe
que tentei desenhar o meu estado de espírito;
percebe-se, não se percebe?!
Acho particularmente claro desta vez...
Está lindo! Poético!
Gosto, nomeadamente, daquele risco oblíquo,
bastante revelador...
Enfim, já nem sei desenhar,
só sei escrever...
Só sei...
Sei...
Sim...
Sim, sei!
Não sei se sei...
Sei lá se sei...
Quem quer saber?
Escrevo, apenas.
Percebes?
Até tu perdes o sentido?
Pois, como eu.
Não tenho mais a dizer...

Detesto isto!

Não, não detesto.
É viciante, é isso...
Que perda de tempo...

2 comentários:

  1. Que honra um poema para mim, sobre mim. Apenas, apenas tiveste vontade de escrever... e escreveste. Como te disse: "escreve apenas". Não tem de ter sentido, tem o sentido que lhe quiserem dar, apesar de ambos sabermos que não tem sentido nenhum. Como eu, como tu, e tudo o que nos rodeia, nada tem sentido.

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