quinta-feira, 13 de novembro de 2014

ENTREVISTA - Daniel Santinhos, líder dos Jed Dickens

Após um longo interregno, as entrevistas voltam ao blogue. Desta vez, fica para a posteridade a contribuição do Daniel Santinhos, frontman da banda rock Jed Dickens [cliquem aqui para a página do Facebook]. Conheci esta banda num concerto que deram no Porto, num 11 de Setembro... A Casa Viva aguentou e eis o que surgiu desta conversa, 5 longos anos depois:


HIGH ON THE MOUNTAIN:
Daniel Santinhos, é para mim um grande prazer poder contar com esta entrevista no meu blogue. Confesso aqui a minha admiração pelo EP dos Jed Dickens que ouvi pela primeira vez em 2009 e desde então tem estado em constante rotação no meu leitor de mp3 [cliquem aqui para ouvir]. A vida dá muitas voltas, creio que os Jed Dickens estão parados, estamos ambos a viver em Aveiro e aqui te faço uma entrevista sobre o teu momento actual e como cá chegaste!

Vamos começar com uma questão fácil. Como nasceram os Jed Dickens?

Daniel Santinhos:
Bem, acho que começou como começam todas as bandas. Estudávamos na mesma escola, éramos amigos e já tínhamos tocado juntos. Na altura tínhamos uma banda em que o João tocava bateria e o Eduardo guitarra. Eu já tinha tido outra banda com o Eduardo a baterista, e a experiência tinha sido boa. Tive umas ideias de músicas, falei com eles e começámos a ensaiar (se não estou em erro 15 de Dezembro, 2007 ou 2008).



HOTM:
Se tivesses dito mais cedo, esperava-se um mês e comemorava-se a efeméride! Mas siga: porquê esse nome?

DS:
Aquela ideia original de juntarmos os nossos nomes como fizeram os RAMP e os DZRT eheheh JED (João, Eduardo, Daniel), Dickens sempre foi um nome que gostei, e veio do escritor Charles Dickens. Lembro-me de ter em criança um livro dele, o "Oliver Twist", daqueles que cheiravam a mofo. Mais tarde fizeram piadas com o DICKens, e era porreiro, falavamos de nós próprios como os jed pilas.


HOTM:
Um clássico, é um dos livro na minha wishlist. Actualmente, que estás a fazer no mundo da música?

DS:
Sinceramente, é raro quando toco guitarra, muito raro. Já tive ideias e tinha algumas coisas gravadas para utilizar, mas nunca passou disso.


HOTM:
Os Jed Dickens acabaram?

DS:
Pode dizer-se que sim.


HOTM:
Ainda há dias, as Bellenden Ker [cliquem aqui que vão ter ao Facebook], com quem vocês já partilharam palco, regressaram do mundo dos mortos num concerto de Halloween. Portanto, seguindo a tendência, quando é que os Jed Dickens vão regressar?

DS:
Era um concerto que gostava de voltar a ver, as Bellenden ker têm um som muito característico e bom. Para o final da banda as coisas não estavam a correr da forma que queríamos e decidimos cancelar os últimos concertos (penso que eram 4 ou 5). Ainda voltámos a ensaiar, falámos em mudar algumas coisas, gravar músicas novas mas acabámos por desistir. Falámos nisso quando estamos numa noite de copos mas tem sido difícil estarmos os três juntos (infelizmente).


HOTM:
Falando doutra banda com quem partilharam palco, os Shivers [cliquem aqui para o Facebook]. Eles têm estado parados, nomeadamente desde que o Arroja foi viver para Londres. É possível conciliar trabalho e a vida duma banda? Chega a uma altura que a vida nos manda "cada um para o seu lado"? Estamos condenados a ter bandas rock apenas na nossa adolescência e, talvez, vida académica?

DS:
É aquela altura que cada um começa a ir para seu lado e isso acontece de uma forma muito natural. No caso dos Shivers, claro que para o Arroja vir a Portugal dar um concerto implicaria no mínimo ter a viagem paga; nem sempre acontece. São mais as vezes que perdemos dinheiro do que ganhamos.


HOTM:
É verdadeiramente algo que fazemos por gosto porque se perde dinheiro, inevitavelmente. Há algum concerto que recordes com particular saudade? Algum que te marcou mais?

DS:
Lembro-me bem dos maus eheheh. Talvez no Chá das Eiras no Porto, no festival 1.77 (Elvas), black n whitte fest (Vila Viçosa) e nos Celeiros, em Évora; foram grandes noites.


HOTM:
Dizem que o baterista é o membro da banda com mais sucesso entre o público feminino. Achas que isto se confirma, em particular sendo o vosso baterista modelo?

DS:
Ahahah sem dúvida, um grande sedutor! :) Mas isso deve ser o público feminino a falar e não eu... ahaha


HOTM:
Bem respondido! Groupies, podem comentar esta entrevista, ficamos à espera! ehehe
Continuando: João Canhão, nome de guerra, poderoso, Daniel Santinhos, nome mais angelical mas basta ouvir os teus berros para o povo ficar em sentido, e depois um baterista que é modelo?! Que banda rock é esta? Ou estamos perante preconceito?

DS:
Nunca tinha pensado nisso, fomos 3 amigos que tocávamos aquilo de que gostávamos. Nunca trabalhávamos bem a imagem mas não sei como é que eles se sentiam em relação a isso.


HOTM:
Por falar em preconceiro, a vossa música tem alguma mensagem em especial? Política, anti-preconceito ou outra? Ou simplesmente queriam fazer a vossa música sem pensar muito nas letras?

DS:
Queríamos fazer a nossa música. Nunca tínhamos um tema, as coisas surgiam nos ensaios e quando estávamos juntos "Olha, podíamos fazer uma música sobre isto!" - e ia acontecendo. A "Another Ride" [cliquem aqui para ouvir a música], parte da letra fala de um amigo nosso que adormeceu à porta de casa com a chave na fechadura. O pai ao sair de casa de manhã para ir trabalhar deu com ele a dormir de joelhos: épico!!


HOTM:
Eu diria que não há melhor inspiração do que a nossa própria vida! O que vinha primeiro, a letra ou a música?

DS:
A música. E admito que demos concertos com letras inventadas na hora. Aliás, nunca demos um concerto completo que tivesse todas as letras! Ahahahah. Eu sei que era mau, mas tínhamos músicas novas que queríamos mostrar, e ninguém 'tava para ouvir as letras, sinceramente, eu detestava cantar... Depois disso, quando começámos a gravar as músicas, já eram feitas as letras, com mais calma e com mais sentido. Gostei de fazer a "Seven Sins" [cliquem aqui para ouvir] com o João. Outros temas como a "Poor Jimmy" [esta música tem vídeo; cliquem aqui para ver e ouvir] e "Another Ride" foram escritas pelo Lupa.



HOTM:
Esta pergunta impõe-se: o grunge está morto? (eheheh)

DS:
Isso é porque nos estás a rotular com música grunge! Eheheh. Eu acho que isso não é importante, grunge foi uma época, um estilo, quando isso aconteceu eu era uma criança. Tenta-se sempre recriar ou imitar os ídolos, às vezes de forma involuntária. É onde toda a gente vai buscar inspiração. Com a experiência e maturidade as coisas ganham outra forma.


HOTM:
Sim, tudo muda. Como por exemplo, onde passamos o nosso tempo. És do Alentejo, estudaste em Tomar, vives em Aveiro e quando podes vais ao Hard Club, na Invicta. A vida tem-te puxado para Norte. Notas essa mudança? Há um sentir, uma maneira de estar diferente das pessoas em diferentes latitudes? Na música ou no quotidiano...

DS:
Foi um bocado por oportunidades de trabalho, e acabei por gostar. Sempre que posso vou ao Porto, nem que seja para passear. Gosto do Norte, apenas gostava de estar mais perto da minha família e dos meus amigos em Elvas. Já fiz alguns amigos, começo a sentir-me em casa.


HOTM:
Do que gostas mais em Aveiro?

DS:
Estar perto da praia, estar perto do Porto. Tem movimento, tem zonas calmas, bons restaurantes, bares, cinema, e concertos. E a cidade é bonita, atrai muitos turistas. Em Elvas é o que me faz falta, mais vida nocturna no centro da cidade, mais concertos com bandas que tocam originais e que se pague a entrada, porque ninguém quer dar um tostão, e especialmente cinema, que os filmes lá chegam de carroça.


HOTM:
Além da Casa Pina [ehehe cliquem aqui], que outros sítios é que o pessoal mais ligado às bandas rock (ou outras, vá) deve conhecer em Aveiro?

DS:
Mercado Negro é um espaço muito bom [Facebook aqui]. Não tem muita confusão, a musica é boa, costuma ter concertos e agora até tem uma livraria, o "Elefante Balão" [cliquem aqui para ir ter ao Facebook]: aconselho.


HOTM:
E eu também aconselho, local obrigatório para quem tiver preocupações artísticas. Tu que és artista, literalmente, na área do design, se estou correcto, que achas do estado da arte em Portugal? Há emprego? Há condições? Um designer é reconhecido pelo que faz?

DS:
Ainda sou muito novo nisto no mundo do trabalho. A pouco e pouco aprendo com o que vejo, com o que oiço e com os erros. Há condições que pouca gente as dá. Por vezes é ingrato, e é preciso ter uma paciência do caralho!


HOTM:
Qual o teu trabalho mais famoso?

DS:
De famoso não tenho nada, mas dos dois trabalhos que gostei mais de fazer e que tive um bom feedback foi com uma exposição fictícia que fiz no mestrado, o tema era sobre rockabilly. E o plusplus.collective que desenvolvi a imagem gráfica e criei o conceito. Ainda é um projeto que me dá prazer fazer.


HOTM:
Quais os teus objectivos profissionais?

DS:
Ter prazer no meu trabalho, e uma boa equipa para trabalhar; tenho muita coisa para aprender.



HOTM:
Ter passado por bandas rock ajudou-te no teu percurso académico e profissional?

DS:
Ajudou em tudo. Com os concertos conheci novas pessoas, cidades ou aldeias, experiências, e isso ajudou-me muito.


HOTM:
Por que é que ainda há muita gente a olhar de lado quando dizemos a alguém que estivemos numa banda rock? Eu sinto isso, pelo menos...

DS:
Eu também olho de lado para isso do rock, acho que kizomba é muito melhor! :)


HOTM:
Ahahah! Muito bem! Para acabar, que a entrevista vai longa, conta-nos uma história dos Jed Dickens, algo que recordes como um bom momento. Essas histórias abundam no universo musical underground (chamemos-lhe assim! ehehe).

DS:
São tantas, e em tão pouco tempo... Não consigo escolher uma mas só de pensar algumas coisas não paro de rir!


HOTM:
Muito obrigado pela entrevista. Se quiseres deixar algum comentário final, está à vontade; no meu blogue não há limites editoriais!

DS:
Obrigado eu, lembrei-me de muita coisa boa. Sorte para o Eduardo e o João que têm bandas no activo! (:

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