Quem não
conhece esta expressão? É uma expressão de conflito: é porque se dão mal. Então
quererá dizer que cães e gatos têm uma convivência difícil! Será assim? Uns
dizem que sim, outros dizem que não… E, neste momento, entre os que lerão isto,
não faltam defensores de ambos os lados: “Tenho cães e gatos há anos e dão-se
todos muito bem!” / “Não os posso ter juntos pois ficava sem casa, e sem
animais!”. E há uma terceira facção – a minha – que corresponde às pessoas que
nem tem cão nem tem gato, e cuja discussão deste tema é mais ou menos
indiferente: somos os eremitas desta sociedade. Até me sentiria mal em estar
fora de moda mas como é o costume uma pessoa habitua-se… Agora até tenho um
filho mas como não tenho cão devia estar calado. Nem gato. Mas aqui há gato:
devia ter um amigo de quatro patas em vez dum bebé humano? É que ambos
gatinham, por exemplo. E se tento dar opinião? “Mas tens cão? Tens gato?
Cala-te!”. Tenho ácaros aqui em casa, e bastantes – conta? Claro que a raça dos
insensíveis que não têm animais de estimação, a que pertenço, curiosamente
pertencem também à raça dos que nunca abandonam animais de estimação. Mas disso
ninguém fala… São pontos de vista… “Esses não são os verdadeiros amantes de
animais!” – dir-me-ão, e tendo a concordar. Mas e aqueles que fecham um animal
no seu apartamento? E aqueles cães que poderiam ter tido um futuro na conquista
espacial canina e fazem estragos entre a cozinha e o quarto? E aqueles gatos
que davam para as finanças mas simplesmente arranham sofás? E as iguanas? E os
peixinhos de aquário? E os passarinhos? Falem deles! Têm tanto direito ao
conflito como cães e gatos. Defendam-se, com unhas e dentes. Estamos em guerra!
sexta-feira, 24 de julho de 2020
quarta-feira, 8 de julho de 2020
Ennio Morricone - Two Mules For Sister Sara
Até ver, toda
a gente morre, o que é igualmente válido para aqueles que apelidamos de génios.
E serão génios aqueles que fazem mais ou melhor do que a maioria (os que também
morrem mas no anonimato…). Sendo, provavelmente, tão cinéfilo como melómano,
não poderia ficar indiferente à partida de Ennio Morricone – e não fiquei; fiz
aquilo que a maioria dos seus admiradores terá feito: ouvir a sua obra, ou
parte dela, pois é bastante extensa.
Poucas horas
após a notícia da partida deste memorável fazedor de sons de filmes memoráveis,
ouvi na rádio uma breve entrevista à Dulce Pontes (uma Portuguesa que canta bem), que teve de aprender a falar
Italiano para ter o prazer de trabalhar com a lenda. Um exagero duma estrela
inacessível? Ou um filtro necessário para aqueles que realmente tinham vontade
e o espírito de sacrifício necessário para conviverem com esta figura ímpar?
Talvez aos génios tudo se deva perdoar, e para se chegar ao seu convívio tudo
se deva fazer. Como sempre, sobra algo: uma vasta obra que felizmente todos
podemos e devemos apreciar.
O bom (o
magnífico) de ouvir Ennio Morricone é que a qualidade musical coincide com a
cinematográfica. Das fantásticas composições que constituem a sua obra, aquelas
de que toda gente fala por estes dias, associadas a filmes tão famosos quanto
as suas bandas sonoras (The Good, the Bad
and the Ugly; Cinema Paradiso; A Fistful of Dollars; Once Upon a Time in the West; Once Upon a Time in America; The Mission; por exemplo, e que adoro
tanto musicalmente como “sétima-artemente”, a que juntaria alguns dos “seguintes”,
e que igualmente idolatro como 1900; Il Fiore delle Mille e Una Notte; The Untouchables), não terei muito a
acrescentar. Portanto, e a lista dos restantes continua a ser extensa e
riquíssima, vou destacar apenas um filme – e respectiva banda sonora assinada
pelo mestre – de que gostei particularmente, um western menos conhecido mas que
diria merecer mais fama: Two Mules For
Sister Sara, cuja banda sonora integral se pode encontrar no youtube (https://www.youtube.com/watch?v=1vnQDmBUpm4).
Da parte
sonora desta obra destacaria, obviamente, o tema principal, de que gosto
particularmente pois, além da grande inspiração de sempre, revela uma grande
inteligência (por exemplo, consegue-se ouvir uma mula a zurrar “musicalmente”),
e assenta perfeitamente na história do filme, pois remete-nos para uma longa
viagem cheia de peripécias, que efectivamente acontece, e é o interesse central
do filme. Aliás, uma das grandes homenagens que repetidamente se fazem ao maestro
é exactamente a fusão do som e imagem em “obra de arte de excelência”,
chamemos-lhe assim. Infelizmente, a tradução do título para Português (“Os Abutres Têm Fome”, como a tradução do título
para Italiano), ainda que não totalmente descabida, perde todo o jogo de
palavras do título original: mula como mula de carga ou como alguém que faz
transporte duma mercadoria ilegal, referência às duas mulas que acompanham a
Irmã Sara (Shirley MacLaine), talvez não tão religiosa quanto era suposto: a “besta
de carga” e o Clint Eastwood (imediatamente antes dos seus maiores sucessos no
cinema como actor). Pode-se ainda referir que as mulas são estéreis; assim como
as freiras, certo!? Enfim, um título sugestivo e bem conseguido. A dupla de
actores tem uma química apreciável, o humor está bastante presente, e tudo
junto creio ser dos melhores filmes que vi, pelo menos naquela categoria dos “bons
filmes que não têm a fama que merecem”. Ouçam, vejam, apreciem!
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