segunda-feira, 30 de abril de 2012

memórias na água a correr

Sol, que estás a brilhar, vai chegar
o dia em que te escondem as nuvens
e então, sem reparar, devagar,
esquecerei que no dia seguinte vens
como sempre tens vindo e virás
pois há memórias que não sou capaz
de me recordar eternamente
pois que vivo entre a gente...

Mar, que estás a brilhar, vai molhar
outro dia em que não esteja vento
e então, sem reparar, se calhar,
esquecerei este mau momento
como sempre me tenho esquecido
pois destas memórias não sou capaz,
não quero recordar o já vivido
e ter assim um momento de paz...

E vem uma onda que me cobre por instantes,
em que fecho os olhos e nada é como dantes
em que fechava os olhos e nada mudava
em ondas revoltadas em que me afogava
em remoinhos distantes em que me escondia
em caminhos extenuantes sem a luz do dia
e a água passa e ao sol vou já secando
e abro os olhos mas não sei até quando...

Luz, que me fortalece, já parece
que voltaste para, enfim, ficar
mas penso "quiçá ninguém merece
livrar-se da água e ao sol secar"
quando na água estão as nossas raízes
quando ao sol a nossa pele se enruga
quando ao vento ouço o que me dizes
e das memórias ninguém se enxuga...

Ar, que me oxida, já me envelhece
por dentro ter tanto em que pensar
um rosto nem sempre é o que parece
e sorrio com vontade de descansar,
eu respiro mal pois levas-me a alma
no quinto de oxigénio que me mata
mesmo que a face permaneça calma
a memória persiste sempre ingrata...

E vem uma onda que para sempre me reclama,
que me protege do sol e da sua chama
que me fecha os olhos e me dá descanso
que me faz esquecer o mar onde me lanço
que me autoriza a nada querer, nada perceber
que me permite nem ser, nem parecer, nem saber
e a água passa e ao sol vou já secando
não abro os olhos e para sempre é o meu quando...

E deixo memórias na água a correr...

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