quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Sanidade purificação e chama...

Nas paredes brancas deste quarto arejado
vejo o filme da nossa vida projectado:
para quê pensar no que poderia ter sido
se agora é hora de tomar um comprimido
que nos faz esquecer que podemos pensar?
Durmo acordado e sonho para não me cansar
para não ter de mover mais montanhas;
os ratos que pariram nas suas entranhas
são amigos da noite com quem converso
e que respondem animados sempre em verso
e tenho a certeza, sempre que estou contigo,
que não sei as palavras certas do que digo,
e mesmo assim tento apreender o significado
de estar tão certo quando estou enganado
e se isto a quem lê não faz qualquer sentido
estamos no sítio certo pois aqui é permitido
sermos malucos à vontade sem mais questões!
Olha para aqueles que contam os tostões,
todos os dias do mês, que sentido isso faz?
Olha as árvores lá fora calmas, olha que paz,
como é que não me lembrei antes deste lugar?
O tempo é outro e acho que passa devagar
pois ainda me lembro duma outra vida lá fora.
Quem a quer viver quando vejo com nitidez
que o meu único problema é reter alguma lucidez?
Quero, por fim, e sem reservas, ensandecer,
é o passo em frente quando já quis desaparecer,
e é o movimento certo quando não há resposta
à questão de por que é que de alguém se gosta.
Esta questão que de coração que é tão profícua,
assim como ela para mim é a pessoa mais conspícua
tem de haver, ainda que não queira, uma guerra!
Pois que a mente sim mas o amor nunca erra,
a irracionalidade é um elevador que só sobe,
deitamos fogo às camas e dançamos à luz do strobe
e ao som das sirenes, preocupado e agudo,
agora daqui não saímos porque aqui temos tudo
e sinto o cheiro forte a porco assado
e é tão bom tudo o que temos passado
e é tão forte a dor que nem sequer sentimos
neste fogo em que nos extinguimos
para sempre...




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