quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Nada dizendo...

Nada, não digas nada, não vale a pena
porque não adianta nem mereço
a atenção, a amizade e o apreço
que prestas a esta alma tão pequena...

Mas e se eu quiser dizer?

Não dizes! Devias tê-la perdido!
A sério, muito mau, foi impensado!
Onde tinha a cabeça? É escusado
e vais dar o tempo como perdido...

Não és só tu que tens medo...
Não és mesmo...
Não sei por que pensas assim...
Não sei mesmo...

Também não sei...

Eu não sei o que te diga
mas digo sempre a verdade:
não há mal que não persiga
a quem sofra de ansiedade,
não há vitória alcançada
quando não vais competir,
pensas que não vales nada
se tens medo de existir.

E por mais que me digas o contrário
esses teus olhos são sempre sinceros,
se vivesses num mundo imaginário
os comentários não eram austeros,
mas vives neste, finito e precário,
e à sua semelhança são feros!

Zangas-te? Ou te zangaste?
Tempo, sempre relativo...
Recordas-te ou recordaste?
Pararia mas se vivo
mais é por ter atenção
ao sal que se adiciona,
e que blinda a repulsão
que tanto me condiciona.

E se acreditasses no que te digo
esses momentos eram poesia,
por mais que tente sei que não consigo
pregar sozinho a esta freguesia,
mas vivo nesta e sinto-me em perigo
por poder ouvir tudo o que dizia!

A tensão superficial, nada superficial, atenção, blindada!,
no seu canto escuro onde a vigia é constante, não vá haver interrupções...
Não posso ver, não quero ver, há monstros escondidos e de tez zangada,
prontos a visitar-me em sonhos para roubar a memória das emoções!

Sim!
Não!
Sim, pode ser...
Não há monstros...
Sim, tens de perceber...
O quê?
Monstros e seus rostros...
Certo.
Esquece...
Não!
Sim!

Em fase de negação...
Em fase...
Faz!
Faz bem!
Bem não faz...
Mas faz...
E...

A água escorre e...

E não vale a pena e...

E volta ao início e...

E volta ao fim e...

Deu uma volta.

Um nó.

Cego.

Seco.

Que por incúria
descurou a cura
e apenas por fúria
destilou secura
e retirou a essência
por não ter paciência...

Cheira-me...

Cheira a mar. E a mar
é que se quer,
e cheira a incêndio...
E o ar tem fumo...
Acende-o.
Mas como?
Parece um jogo,
combater fogo com fogo,
mas se resulta...
Resulta?

Envidam-se esforços...
Com reforços...
Sem remorsos...
Ou com...
Com...
Contente.
Queres que tente?
Eu tento.
Aguento!
O unguento.
É forte.
É.
Até é.
Sim.
Pois.
Exacto.
Isso.
Ora...

Ora bem, vamos lá ver onde encaixa.
A menina Pandora, o que é que acha?
- Hmm... Tudo te dou e tudo te tiro:
deixa-me em paz, que é o que prefiro.

Certo. Em paz. Te deixo.
Hoje já não me queixo.
Hoje já não te chamo.
Hoje já não te sei dizer o que disse outrora.
Olha lá para fora.
O céu está cinzento.
Mas como se é Verão?
Oh, porque eu cimento
assim o teu serão.
Não há Sol.
Nem Lua.
Nem luz.
Nem mais...

Quem quer mais porque hoje a liquidação é total?
Ouçam as minhas palavras pois é fundamental!
Percebam que nada tenho a ganhar com tal oferta!
A vitória é vossa, a vitória e fácil e certa!
Fecha os olhos... Vou-te vendar...
Tenho uns segredos a desvendar...
Podes ouvir mas não olhar,
quer dizer, se calhar...
Se calhar é injusto...
Mas a verdade é que tudo tem um custo...

E uma vez
eram duas,
ou até três,
luas
e estranhava-se,
entranhava-se,
alinhava-se
pelo mesmo diapasão
toda a frequência
sonora e luminosa...
Goza, goza...
Mundo paralelo?
Era bem belo...
Azul, verde e amarelo,
e estrelas saltitantes!
Antes fosse, antes...

Antes ainda havia uma cancela
que abria o caminho à Verdade
e ela saltava por uma janela
para encontrar a Mentira,
uma relação proibida,
o Amor a foder a Vida,
e a Justiça cega vira
que ali não havia Futuro
e a Desgraça sorriu!
E a Luz caiu no escuro
e apagou-se e fugiu
e ainda hoje não voltou
a ser vista e mais ninguém gostou
das trevas assim lançadas!
Populações assustadas,
pânico lançado,
Desgraça e Morte lado a lado
a beber a água estagnada
da lagoa alterada
pelos corpos putrefactos:
é um facto que são factos,
tudo deitado pelo chão
pela imprudência duma paixão...

Não interrompes,
muito pelo contrário...
Nem sequer me corrompes
quando é necessário
porque os rios correm numa só direcção...
Os rios são como são...
Açudem-nos, barragem-nos, esterilizem-nos
e mesmo assim correm em direcção ao mar...
Porque há sempre um destino que nos vem chamar...

Não! Não! Nããããããão!
Eu quero subir o rio!
Com esta jangada de ideias!
Xiu!
Aqui não há panaceias
para a tua doença...
A tua doença chamada crença.
Que se trata num asilo,
aquilo
a que os povos chamam realidade!
Uma nulidade!
Exactamente!
A sociedade!
Efectivamente!
A realidade,
sempre aparente,
é que não há unidade
e que só tu estás doente
quando só tu estás minimamente são...
Chamam-lhe teorias da conspiração...

Corre!
Dá-lhe brita!
Dar brita inspira muita gente!
E a gente anda descontente!
Porque a gente não acredita!
E morre...

Um manual de auto-destruição,
sempre actual...
Factual...
Irrepreensível,
irresponsável,
incrível,
improvável
mas possível...

Até ao dia, ou à noite, em que o acto se consuma...

Não há razão nenhuma que possa justificar o acto que tens em mente,
jovem,
tu estás doente!
Olha à tua volta e tudo o que temos para te oferecer!
Betão, alcatrão, poluição e outras maravilhas da civilização
que com toda a certeza farão as delícias dos teus sonhos capitalistas!
Não desistas!
O comunismo acabou para bem dos nossos pecados!
Agora somos felizes e bem educados!
É tudo tão transparente e puro e correcto que nunca há enganos!
Perfeitos! Megalómanos! Deus nos abençoe! Olé!
Duas bandarilhas e festa brava durante uma dúzia de anos!
Porco no espeto e outras iguarias gratuitas para todos! Ah pois é!
Ah...
Ah pois...
É...
- Digam-me só uma coisa, se não for muita a maçada,
mas por que é que tudo o que dizem é nada de nada?!

Nada de nada...
Nada...
Nada mais...
Atravessa o mar se for preciso...
A nadar...
Nada...
Nada...
Nada...
Nada...
Nada...

A nadar nada dizendo
alcanças o porto
e daí tens um cruzeiro de luxo
até um belo horizonte
onde o sol não se põe...

E as feiticeiras que aparecem no caminho
para incomodar a tua saga
são apenas ilusões
que aparecem nos teus receios
e que evaporam no ar
à medida que percebes
que não estás só.

Toda a determinação que te acompanha
e que nada contigo
nunca te apanha
porque o que te digo
é tão simples se o puderes compreender...
Só te falta aprender...
A ouvir...
E tu ouves nada...

E tu...
Tu...

Tu...

E eu...

E...

Nada...

Não digas nada...




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