segunda-feira, 13 de outubro de 2025

ENTREVISTA - André Fox, Músico e Terapeuta de Som

André Fox, é para mim um grande prazer poder contar com esta entrevista no meu blogue - sei que me repito nesta parte inicial mas é verdade. Já nos conhecemos há uns doze meses, uma volta ao Sol, fazes parte desta minha estadia em terras de Santa Maria da Feira, e também do meu percurso espiritual. Exerces por cá as tuas actividades, da música à meditação, passando pelos produtos naturais, e seguramente serão tópicos abordados nesta entrevista.


HIGH ON THE MOUNTAIN:
Vamos começar com uma questão fácil. Como chegaste à espiritualidade?

André Fox:
Olá Paulo, grato pela tua companhia nesta volta ao Sol, onde nos encontramos para vibrar mais alto. Desde miúdo que haviam coisas que não eram muito normais, digamos. A minha mãe contava histórias da infância/adolescência, que foi marcada por um grande dom, mas que na altura era problemático e então resolveram bloquear em certa parte as capacidades dela. Eu lá fui crescendo, ignorando o lado espiritual e deixei-me levar pela matéria, até que regressei de estágio em Espanha, Granada (2012) e algo cá dentro começou a questionar tudo e a tentar encontrar o propósito da nossa vinda cá a este plano. Não foi fácil, muito isolamento e horas passadas a ver documentários e a estudar coisas que não são bem vistas aos olhos da sociedade.



HOTM:
Já passaste pela indústria têxtil, pelo turismo, já foste DJ - encontraste na espiritualidade o teu caminho ou ainda poderemos assistir a mais alguma mudança radical na tua vida?

AF:
Radical não digo, quando uma pessoa se abre ao Universo, vamos complementado a nossa capacidade de servir a nós e ao próximo. 
Talvez num futuro irei estar mais próximo da terra e da produção de alimentos, é algo que gosto e que cada vez mais necessitamos.


HOTM:
Queres explicar melhor o que fazes actualmente em termos profissionais?

AF:
Para além de ajudar na limpeza energética, eu potencio o crescimento de quem me procura. Vejo para além da carne e da mente, vejo o potencial escondido dentro de cada um. 
Uso o Reiki para análise energética e o Som para proporcionar um  relaxamento profundo, que ajuda na cura da Alma e consequentemente do físico.



HOTM:
Lançaste recentemente a tua própria marca de instrumentos musicais, a Sana Sounds. Como está a correr? Que instrumentos vendes?

AF:
Sim, lancei a Sana Sounds, focada em instrumentos de qualidade alta a um preço muito acessível. 
Para já vendemos Handpans, Taças de Cristal, Taças Tibetanas, Gongos do Nepal. 
Posso afirmar que está a correr melhor do que o esperado, cada vez mais as pessoas têm consciência do poder do Som, o que é fantástico.



HOTM:
A tua actividade, como qualquer outra, tem os seus desafios. Ainda há muita gente que te ache um "bruxo", ou mesmo um charlatão?

AF:
Houve alturas em que perdi tempo em tentar mudar as mentalidades. Mas aos poucos a verdade vem ao de cima. 
Tive alguns episódios caricatos com pessoas conhecidas, mas não há nada melhor do que experienciar... 
O Som/Energia fala por si, é como o algodão, não engana hehe.


HOTM:
Podemos dizer que és um "terapeuta de largo espectro", creio. No que concerne aos produtos naturais, quais aqueles com que gostas mais de trabalhar?

AF:
Já experienciei e auxiliei rituais com medicinas da Amazónia, Ayahuasca, kambo, rapé. Também com psilocibina (cogumelos mágicos).  Mas há uma que me acompanha já há uns bons anos, que é a cannabis. Muito mal tratada pela sociedade, esta medicina ajudou-me imenso no meu despertar e a deixar uma droga pesada que quase me matou por várias vezes, chamada álcool.  De todas as medicinas que mencionei, é a mais fácil de vigiar em grupo, ainda assim é preciso total respeito pela planta e por aquilo que ela nos vai mostrar.



HOTM:
Porque há tanto preconceito com certos produtos, como os canabinóides, quando alguns outros parecem estar na moda, e ninguém põe o seu uso em causa? Não são todos os produtos naturais igualmente interessantes, apesar de cada um ter a sua própria utilização?

AF:
Eu acho que é claro, dizem que a cannabis deixa a pessoa preguiçosa, que destrói neurónios... Muito pelo contrário, já há estudos que comprovam que cria neurónios (usada para reverter Alzheimer, já comprovei com um paciente meu) e claro, quando estamos a trabalhar em algo de que não gostamos, a planta só vai mostrar cada vez mais esse desagrado, obrigando-nos a mexer. 
É uma planta que ajuda no despertar, e é claro que quem domina este Jogo, não quer perder escravos... 
A roda tem que girar, sem questões, sem desobediência...  Para além disso é uma planta que interfere com o nosso sistema endocanabinóide, responsável por tudo que é inflamação, tudo que é inflamação é doença... Claro que a indústria farmacêutica não iria aceitar perder bilhões em lucros com clientes, curar nunca foi rentável. Existe cura para tudo e encontra-se na natureza, estamos a ver cada mais estudos sobre psilocibina e outras "drogas", que retiram este carácter negativo, mas como sempre, é preciso muita cautela, segurança e respeito pela medicina.


HOTM:
Foste pai pela primeira vez o ano passado, e além dos desafios habituais da paternidade sei que evitas (ou negas mesmo a utilização?) de vacinas e outros produtos farmacêuticos e tratamentos tradicionais em detrimento de produtos naturais e terapias ditas alternativas. É difícil lidar com a medicina tradicional? É possível conjugar medicina tradicional com natural/holística?

AF:
Com a minha experiência posso afirmar que ir ao médico/hospital, só mesmo em emergências/acidentes. A partir do momento em que há formas holísticas de detectar doenças antes delas se manifestarem no físico para quê submeter a exames que são prejudiciais para o nosso corpo? Para quê estar num espaço cheio de viroses? Fui pai, a minha companheira não levou nenhuma vacina, nem a minha filha, passaram-se 16 meses e fez apenas febre ao nascer os dentes, nunca esteve doente. 
Li as bulas todas por descargo de consciência e ainda fiquei mais indignado com os efeitos, mas ninguém lê as bulas? Confiamos nos médicos de olhos fechados? O homem do talho também veste bata branca...
Para mim, que já ajudei a detectar cancros e ajudei a curar, não acho que a medicina tradicional tenha qualquer tipo de eficácia, remediar não é solução. É necessário saber a causa da doença e 100% das vezes ela antes de ser física já se manifesta no campo espiritual/mental/emocional.



HOTM:
Outro desafio é chegar às pessoas. Há muita gente disposta a experimentar estas terapias alternativas?

AF:
Cada vez mais, mas esperam que a terapia faça o trabalho deles. Muitos querem mudanças sem fazer algo diferente... São poucos os que experimentam e fazem pela sua própria cura/salvação, mas tudo a seu tempo.


HOTM:
Há um tipo de terapia para cada pessoa ou situação? Ou por exemplo o sound healing aplicar-se a todos?

AF:
Eu acho que é muito pessoal. Na minha visão o Sound Healing é para todos, é uma ferramenta para ajudar no desligar da mente e ver o que vai dentro da Alma. Mas acredito que haja terapias que ressoam mais com certo tipo de pessoas do que com outras e ainda bem. Não há errado nem certo, sentimos e é o suficiente. Só temos que nos deixar levar pelo que ressoa connosco.


HOTM:
És utilizador da IA na tua vida? Achas que a vida vai mudar muito com a inteligência artificial?

AF:
Se dependesse de mim, já teriam ido à falência hehehe. Usei umas poucas vezes.  Acredito que usada para o Bem de todos seria algo magnífico, um mundo mais criativo e despreocupado, mas com estas "gentes" a liderar o planeta, pressinto que será algo usado para um ditadura tecnológica, como na China.


HOTM:
Creio que concordarás que o Mundo não vai no caminho certo (alterações climáticas, guerras, várias tensões sociais, ...). Que caminho propões a aqueles que te procuram? É possível mudar o Mundo?

AF:
O que proponho é cada um encontrar a sua graça, fazer o que amam e servir o próximo. Só assim, mudando o interior, veremos a mudança no mundo. Está na hora.


HOTM:
Muito obrigado pela entrevista. Se quiseres deixar algum comentário final, está à vontade; no meu blogue não há limites editoriais!

AF:
Obrigado eu. Quero apenas felicitar-te, pelo teu crescimento, pelo teu trabalho.  Por teres aceite o convite do universo para seres a mudança que  o Mundo precisa.


sábado, 4 de outubro de 2025

As crónicas crónicas - pt. II - a caixa de correio

Encontrei um verdadeiro filão! Estou extremamente contente! Não é de ouro, ou estaria extremamente rico! Mas para crónicas, para as escrever, para me rir com estes momentos de ouro (em sentido figurado, claro), encontrei uma fonte que teima - felizmente - em não secar: a administração de condomínios. 

Era uma vez um condomínio. Estava a chegar a esta actividade, era jovem, tinha sonhos, gostava de contribuir com algo bom para a sociedade, mas não conhecia verdadeiramente este monstro que estava prestes a enfrentar! As pessoas, essa raça tão estranha, conseguem ser muito possessivas quando se trata da sua casa, como estavas prestes a descobrir! Conseguem transformar-se em verdadeiros monstros! Sim, vi pesadelos à minha frente, a surgirem do nada, de situações de nada, de somenos, lana caprina, o que lhe quiserem chamar, a tomar proporções quase bíblicas! Valha-me Deus! Nem Deus teria paciência para a profissão, nem o Diabo se deve ter lembrado de algo tão brilhantemente complexo e odioso! Desta vez, e haverá mais vezes, vamos focar-nos num tema que, parecendo pequeno, é de enorme importância, pelo menos para quem o levou à reunião daquela noite: a caixa do correio!

A tensão sentia-se no ar naqueles trinta minutos que distavam entre a primeira convocatória e a segunda - não havendo metade do quórum na primeira, espera-se que haja pelo menos um quarto (de quórum, entenda-se), na segunda, para se fazer a assembleia. O tema mais fracturante daquela noite foi uma caixa de correio! Eis o problema: a caixa de correio do condómino de então estava demasiado baixa. Mais ainda - descobri que a altura mínima para a colocação de uma caixa de correio é de cinquenta centímetros. Sim, porque o lesado, o condómino que reclamava desta situação, tinha já consultado um advogado para o efeito! E afirmava, com bastante segurança, que se a situação não ficasse resolvida naquela noite o caso seria mesmo resolvido pelo advogado! A altura de uma caixa de correio... Vê-se tanta fome, doenças e guerras no Mundo - situações confortáveis quando comparadas com meio metro de depósito de cartas, publicidade e afins, num século XXI onde a transição digital - entenda-se correio electrónico -, vai substituindo o papel. Mas se a Lei lhe assistia, o que dizer?!

Claro que a história já é boa só por si, mas ainda há mais a revelar: o condómino que não estava disposto a viver numa casa com uma caixa de correio abaixo do meio metro de altura legal estava emigrado, e disse: "Vim ontem de propósito de França para resolver esta situação!". Pelos vistos, faria uso daquela casa, e da respectiva caixa de correio, apenas uma a duas vezes por ano, apenas alguns dias. Primeiramente, e sem pensar muito no assunto, pareceu-me ridículo, mas um esforço de reflexão fez-me pensar em cenários nunca dantes alcançados: a caixa de correio era baixa, de facto, para se chegar ao fundo da mesma - e portanto ao fundo da questão - uma pessoa tinha de se ajoelhar. Ora, não é preciso ter fé para termos acesso ao lixo todo que por lá anda a maior parte do tempo - chamemos-lhe publicidade -, é preciso ter uma caixa de correio, alta, pois nem toda a gente se pode, ou se quer, sequer, ajoelhar. Caixa esta que deveria ficar muito atulhada destas resmas do consumismo sempre que a viessem consultar após meses de ausência. Há que perceber que qualquer questão tem sempre, e pelo menos, dois pontos de vista - este tinha a sua pertinência afinal! E colocar um daqueles autocolantes da "Publicidade aqui não"?! - sei lá, digo eu... Mas talvez tivesse de vir da França só para tratar disso, não parece razoável. Talvez gostasse da publicidade. Talvez fosse entusiasta da filatelia, e esperava completar a sua colecção de selos - esses pedaços de arte que já não abundam. Selos nas cartas sim, selos nas calças não - é compreensível.

A solução? Fácil, mudar a disposição das caixas de correio. Subi-las! Um trabalho simples, para quem dele percebe. Duzentos a trezentos euros para fazer uma pessoa feliz? Todos os problemas custassem tão pouco! Nomeadamente divididos por todos os condóminos, uma pechincha! Aprovado por unanimidade! Ajoelhou vai ter de rezar, não recolher a correspondência... O ar ficou limpo, a tensão desfeita, já não me lembro se o humano em causa ficou para o resto da reunião ou rumou de imediato para a terra d'Os Miseráveis, enfim, o seu objectivo estava atingido, e outros assuntos puderam ser debatidos. Administrei aquele condomínio por cerca de um ano mais, aguentei esta actividade pouco mais de três. Foi a minha segunda reunião como profissional mas foi aquela em que perdi os três, como se diz em bom Português, ainda que possa haver ali um pouco de sotaque estrangeiro. Uma caixa de correio baixa, nunca tinha pensado na importância de tal...



ENTREVISTA - Nuno Melo, Melómano e Mediador de Seguros

Nuno Melo, é para mim um grande prazer poder contar com esta entrevista no meu blogue. Já nos conhecemos há uns quatro anos, fazes parte desta minha estadia em terras de Santa Maria da Feira, onde és um dos melhores mediadores de seguros (não sou eu que digo, diz o tio Google, que é mais isento do que eu). De seguros, desta terra, e do mais que calhar, há espaço para tudo nesta entrevista.


HIGH ON THE MOUNTAIN:
Vamos começar com uma questão fácil. Como chegaste à mediação de seguros?

Nuno Melo:
Esta é uma longa história... Em 2005 a minha vida deu uma grande volta, a volta que mudou toda a minha vida. A minha namorada colocou-me uma questão importante e fundamental: "Vais continuar a estudar ou vais trabalhar?!". Na altura estava no segundo ano de Engenharia Electrotécnica, no ISEP,  na quarta ou quinta matrícula. E trabalhava em part-time no E.Leclerc. Na verdade tirei os cadeirões à primeira, análises matemática e físicas... já as práticas e a aberração de programação era um terror. Aproveitei o empurrão e desisti. A minha namorada era divorciada e tinha um filho de 5 anos, abriu-se a hipótese de emigração. Para mim nunca foi uma hipótese, só mesmo no limite. Para a minha namorada sim. Fui falar com a minha chefe da altura e foi-me oferecido o estágio para sub-chefe. Trabalhar das 6h às 14h na reposição, das 15h às 20h na formação, e depois trabalho mesmo como sub-chefe. Este belo horário deu em esgotamento ao fim de 8 meses. Férias forçadas e baixa médica. Em Setembro fui falar com a chefe para desistir e foi-me sugerido por ela ir uma entrevista na Mapfre de Gaia, para um projecto que estavam a lançar para gestores de seguros. O marido dela trabalhava lá. Fui seleccionado. No dia 16 de Outubro estava a apanhar o comboio para Lisboa, para uma formação de 3 semanas. E agora passaram quase 20 anos de actividade.


HOTM:
Se não morasses em Santa Maria da Feira, onde gostarias de viver?

NM:
Eu moro em S. João de Ver. Não gostaria de morar na Feira. Ou em Cortegaça, para estar mais perto do mar, ou em alguma aldeia da Serra da Freita, para caminhar na natureza.


HOTM:
Porque tanta gente continua a falar na "Vila da Feira" quando é cidade há mais de 40 anos [14/08/1985]?

NM:
Acho que são os mais velhos... mas mesmo a minha mãe, que acaba de fazer 70, já vive há mais anos com a Feira como Santa do que como Vila; é daquelas coisas difíceis de perceber.


HOTM:
És um aficionado da cultura, e felizmente está cidade tem vários eventos interessantes ao longo do ano (Viagem Medieval e Imaginarius, por exemplo). Queres destacar algum? E porquê?

NM:
Esqueceste-te do Perlim e da Festa das Fogaceiras. Eu gosto um pouco de todos. Irrita-me os Feirenses não gostarem, e muito mais alguns que nunca foram a nenhum. Ainda para mais o Imaginarius, que é de borla. Os de fora vêm cá de propósito, mais do que nós Feirenses. Sei que pode ser incómodo, mas traz dinheiro. Mas já sabemos que o tuga é mestre a reclamar de tudo.


HOTM:
Quanto às reclamações nunca me tinha apercebido... Vamos lá de novo: porque tanta gente chama "Feira Medieval" à Viagem Medieval? Será pela associação à "Vila da Feira"?

NM:
Porque começou como Feira Medieval. Malta de hábitos.


HOTM:
Sei que também gostas de literatura. O que estás a ler neste momento?

NM:
Estou a ler "Terra Sonâmbula", de Mia Couto, e "Fahrenheit 451", de Ray Bradbury.


HOTM:
Há algum autor ou estilo literário que queiras destacar?

NM:
Mia Couto é neste momento o meu escritor favorito. A forma como escreve, a mistura de contos africanos com a vida actual é bastante apaixonante. Acho que vou ler tudo dele.

 


HOTM:
Além de consumidor de cultura, já estás a preparar a próxima geração, tendo uma filha a estudar artes. Foste tu a influência?

NM:
Nada disso. Foi a minha mulher. Sé percebo de arte na óptica do consumidor. Se me pedires para desenhar desenho uma pessoa ao estilo do boneco do enforcado.


HOTM:
Por falar em enforcados, a arte é um parente pobre da sociedade, é não só na nossa: vês com preocupação um futuro profissional difícil nesta área para ela? Ou tens sucessão nos seguros?

NM:
Não vou ter nenhuma sucessão. Ela vai conseguir singrar no que faz. É muito focada e dotada. Pode custar no início mas tenho a certeza de que irá viver só disso.


HOTM:
És utilizador da IA na tua vida? Achas que a vida vai mudar muito com a inteligência artificial?

NM:
Sou cada vez mais utilizador. Olho com 90% de optismo e 10% de receio. A internet também foi uma preocupação e agora não vivemos sem ela. A IA e a tecnologia simplifica, e muito, a nossa vida. Vai tirar emprego? Vai. Mas vai tirar emprego a quem não souber aprender a viver e conviver com ela. Os novos analfabetos não são os que não sabem ler, são os que não sabem se adaptar. Eu já era completamente digital antes do COVID, muita gente foi empurrada nessa altura, alguns ainda não aceitam e estão a "morrer". Eu tenho mais clientes do que nunca, e cada vez menos trabalho, esse é o caminho. Perguntei ao meu enteado o que ele achava, e ele que trabalha em ciber-segurança disse: "Abraça e aproveita. Não podes lutar contra isso.". Tenho grande esperança principalmente na saúde. O salto vai ser brutal!


HOTM:
Muito obrigado pela entrevista. Se quiseres deixar algum comentário final, está à vontade; no meu blogue não há limites editoriais!

NM:
De nada. Espero que tenha sido algo de jeito! 😂




sábado, 27 de setembro de 2025

As crónicas crónicas - pt. I - uma viagem aos serviços públicos


Repartição de Finanças de S. Crucificação (lugar fictício, obviamente, baseado em factos reais, ou surreais para ser mais preciso). É um sítio que nem o demónio conseguiria inventar. Finanças tem de ser nome feminino. É do mais perverso que existe. Não é por acaso que A Morte também é fêmea... Um gajo como eu, Cidadão Bem Disposto, (CBD para os amigos, incluindo para quem isto lê), (narrador consciente, que fica inconsciente perante estes acontecimentos surreais, baseados em factos reais), que até tem noção de que não é propriamente burrinho, é levado a sentir-se o gajo mais ignorante do mundo nestes balcões... E ainda por cima a reboque de meias verdades e de imprecisões dos próprios serviços. Hoje calhou-me um clássico: "Não é aqui.". É preciso acrescentar mais? Claro que sim, embora todos saibamos parte da história que se vai seguir. "Por este andar nem vens de manhã!" - vaticina o meu colega de escritório, Colega De Escritório (CDE doravante), a quem humildemente avisei de que poderei demorar, dado ter assuntos a tratar nas repartições públicas deste país, Calquincida (sim, não existe, o nome de tal país, mas existirão os seus jeitos). "Tenho de ir, tenho uma reunião aí às 11h30.", respondi, acreditando mais em sonhos do que em realidades como esta...

"Tem de ser tudo direitinho", dizem-me, os outrora funcionários, agora chamados colaboradores, deste serviço - ironicamente, não me parece haver grande vontade de colaborar da parte deles. E está tudo direitinho, constatam, analisando tudo o que mostrei estar feito neste caso que apresentei à sua apreciação, e que teima em não avançar, apesar de, na minha perspectiva, estar feito tudo o quanto é possível da minha parte de cidadão de bem, ou não fosse esse o meu nome. "Soluções?", questiono. "Voltar a fazer o mesmo.", retorquem.". Como sei que não acontecerá o mesmo?", indago. "É esse o procedimento.", persistem. "Não me podem ajudar mais!?" - aspiro. "Não. Não é aqui." - contra-atacam. "Onde é?" - atiro. "No IRN." - , aburguesam-se."." Bom dia, obrigado." - agradeço. 

Sim, ainda agradeço, por nada mas agradeço. Aceito. Só me resta, obviamente, perseguir a solução, e dirigir-me ao IRN. Instituto de Registos e Notariado. Notável. Registos. O registo. Masculino. É mau na mesma, mas algo melhor. Esperemos que tenha sorte...

"Parece que ainda vivemos no século XVIII na função pública!" - diz o meu CDE. "Talvez possa começar uma série de época." - coagito, agitando-me, pois sempre tinha a reunião marcada para o fim da manhã, que pela amostra se afigurava longa. Continuo a ser um CBD, com boa disposição, a levar tudo na positiva, na desportiva, talvez hoje se batam recordes, quanto tempo demorará isto a ser resolvido?! 

Mudo de ares, das Finanças para os Registos. Num mundo ideal haveria um balcão onde se resolveria tudo, assim como, sei lá, uma loja do cidadão (?!), mas não aqui na Calquincida. Menos ideal mais ainda bom seria concentrar os serviços públicos num mesmo edifício, mas não aqui na Calquincida, um país utópico, ou melhor distópico, que até parece real. Assim, só me restou voltar a entrar no carro, ouvir um pouco mais o programa de rádio, e desaguar noutro mar de gente. 

Estou a observar... Não vim aqui ter por acaso... Há picos de trabalho, claro, mas há quem não faça mesmo um caralho - penso, enquanto CBD, claro, atento e interessado na evolução desta nossa sociedade. Quero com isto dizer que não costumo recorrer ao vernáculo se não nos meus pensamentos, ou iria ter de correr estes colaboradores a palavras mais directas e menos simpáticas, nem sempre bem aceites, como um "Vai-te foder!". Observo a lentidão de processos. E por mim estaria tudo bem, se não fosse o meu dinheiro aqui envolvido. Que é. Na qualidade de contribuinte. Somos nós, contribuintes, que pagamos esta ineficiência. Ironicamente, quem menos contribui para este estado de coisas é quem mais contribui, pois sabemos contribuir para algo que está longe de aprovarmos, que nos enerva, e que não muda apesar desta nossa consciência. Deste modo, para sobreviver no meio desta merda temos de ser mais eficientes do que os ineficientes que nos sugam os recursos. A administração. A pública. Mais femininos. Mais desgraça. As contas. As públicas. É impossível ser bom no meio disto. 

"O que estás aqui a escrever merecia uma publicação: o teu blogue ainda está activo?" - bem se lembra o CDE. Está pois, activo, o blogue, e para esclarecer, os serviços são tão céleres que consigo escrever a história enquanto a vivo, ou seja, enquanto aguardo a evolução (?!) dos serviços nesta matéria. Em qual matéria? Não interessa, é um exemplo, um bom exemplo, como por exemplo nenhuma criança responde que quer ser funcionário público quando for grande, porque as crianças são inteligentes, e querem ser heróis, não estes anti-heróis de crachá, devidamente identificados, inutilmente, parte de uma massa acéfala que se vai movendo, do seu próprio jeito, sem grande pressa, igualmente conhecida como função pública. Sim, este enorme organismo é composto de vários membros, membros que interagem entre si, que fazem parte dum status próprio, que só eles conseguem viver. Falam entre si. Riem-se. Como se fosse possível, para quem está de fora, achar alguma graça a ter de recorrer a estes serviços.  

Gostaria, contudo, de me juntar a algumas conversas. Entender o outro lado. Ganhar dinheiro sem fazer um caralho, e ainda me achar o melhor do mundo - oh sim, este CBD inveja esta escumalha pública. Entretanto reparo numa maior agitação entre esta mole de colaboradores. Um balcão em particular. Uma conversa entre dois exemplares dessa raça que nos atende (?!). Alto, alguém se levanta! Vão tomar café! Só pode! Ah, já percebi. Um filho duma puta dum gajo qualquer tirou a senha que uma delas tem de atender. Já disse que eram duas gajas? Não é preciso, eu sei. Quem me lê percebe. Que cabrão, deixou de produzir para vir fazer o cartão de cidadão! E interromper a conversa. Filhos duma puta! "Amiga, atende esse que vou tomar um café, que a manhã já vai longa..." - diz uma para a outra. E eu à espera, com uma reunião marcada que se aproxima, perto do sem saber o que fazer: arriscar sair e ter de vir viver este Inferno num outro dia? Ou passar por mau profissional e desmarcar a reunião, esperando que esta manhã seja suficiente para o meu caso? Uma coisa de cada vez ainda tenho alguns minutos. 

Enquanto uns nada fazem - ei-los à descarada, nem tentam disfarçar - , outros só atendem uma senha. Específica. Uma letra. Cuspida pela máquina das senhas, enquanto as ainda há. Por isso se vem de manhã, de tarde só digere, não cospe, não nos atendem. Assim está organizado. É racional? Não, é a administração pública...

Incrível, a primeira que abandonou para ir tomar café chegou apenas uns cinco segundos antes do trabalhador se retirar. Já devem ter isto cronometrado. Assim fico a saber que, para lá da porta onde a espaços desaparecem alguns destes exemplares funcionários da nação, haverá uma máquina de café. Se calhar também o pago. Uma parte em milhões, claro, mas também o pago. O pagamos: só o irmão contribuinte consegue chegar tão longe na leitura desta narrativa, porque se sente compreendido. Obvamente, o café deve ser pago pelo estado. Por que sequer o questiono?! É o mínimo que este país pode fazer pela produtividade dos seus melhores... Também me apetecia: não o merecia? Afinal também o pago... 

O Sr. B, um qualquer colaborador público, por acaso com bigode, que não se importa de se anunciar, tal a discrição do seu trabalho, é a cara deste grupo, e do melhor que há neste serviço: acaba de desligar-se da sua função e dizer que "já vai", e vai mesmo, com um saco de papel na mão, que sendo opaco não esconde o cheiro a doce, lamento ser perspicaz, e vai para onde?! Sim, a porta sagrada! Vai lanchar, como é óbvio. Até porque os serviços abrem às 09h00, e isto como é muito rigoroso tem de estar à frente do café às 10h30! Falta um minuto... Já chegarão os dias em que está de mau humor por alguém tirar a senha nas imediações da hora do lanche do Sr. B. Não há respeito! Sim, tem idade para a reforma, ou quase (mas não temos essa sorte), tem óculos, cabelo curtinho, bigode (claro!), e mete-se com as meninas que vão passando, subtilmente, dando os bons dias, e descaindo piadas de circunstância. Sublime. Se este gajo não vota no PSD (Partido da Sociedade e da Democracia da Calquincida) não percebo nada disto. Disto de quê? De observar pessoas. Talvez não perceba mesmo, mas o Sr. B obviamente vota PSD. São eles que lhe dão o pão (partido actualmente no poder na nobre Calquincida). 

Arrisco croissant, pão não era, pão não cheira a doce. Pão é para o povo. Cheira a algo simples. A algo que o povo nem sempre come. Aqui o povo não é digno de mais, é uma sorte se houver senha para esse mesmo dia. Não se pode querer tudo. Temos de estar gratos pelo que temos. Graças a Deus!

Por falar em Deus, não sei por que me queixo, só estou cá há quarenta e cinco minutos... E estou ao lado do sítio onde vou ser atendido. Onde a amena cavaqueira persiste, sim, entre outras duas gajas, mas uma de cada lado do acrílico, não haja confusões. É outra coisa... mas vai dar ao mesmo. À mesma ineficiência. Fico, contudo, esperançado que, comigo, haja a mesma familiaridade no trato. A mesma amizade no falar. A mesma doçura no convívio. Mas duvido, porque eu sou um pouco mais enérgico, digo a verdade e sou mais rápido e eficiente, sou um prevaricador! E isso nota-se! Deve haver um código secreto de conduta, que sugere baixar a energia de gente assim. Os serviços estão bem como estão... Cinquenta e um minutos depois de entrar, o meu destino vaga de cliente. Como será comigo?!

"CDE, entretanto chegarei com algum perspectiva de solução, espero, e a tempo da reunião. Até já." - anunciei. "Troca os locais e nomes e pública, para partilhar, isto é muito bom para ficar só aqui!" - sugeriu, e bem, o meu CDE. E passados uns meses concretizou-se. E chamar-se-ão "crónicas crónicas". Estas e outras como esta. 

O assunto que me levou aos serviços, esse ainda não está resolvido. Talvez nunca esteja. Qual é? Não interessa. Assim como não estamos nós resolvidos, os cidadãos dados à reflexão - que também não interessam a esta nação -, mas estamos atentos, e com uma palavra a dizer. 


Olho para o exterior e vejo a chover. 


Hoje vim ver uma peça de teatro

Hoje vim ver uma peça de teatro
e é claro que esta cultura é nobre
como também é um parente pobre
devotado a sobreviver de quatro.

À medida que se desenvolve o acto
e que a verdade nua se descobre,
inútil qualquer bilhete que se cobre
se na sociedade há arte sem impacto. 

A carne é pouca p'ró espírito forte,
mal remunerado, ainda que aplaudido,
deixando a pessoa actor à sua sorte

Mas e mudar se sempre assim tem sido?
Vamos todos a caminho da mesma morte
Mas vida nem todos terão vivido.

26/09/2025



quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Caos em nós

Caos em ti, caos em mim,
será este o começo do fim?
Mais um drone foi lançado, 
outro espaço aéreo fechado;
lestos somos sempre na crítica
mas qual o efeito na política?

Votos contados, de quem foi à urna,
qualquer a contagem, hora soturna...
Como se evolui? Se nada muda,
se sou só mais um quem me ajuda?
Quem eu ajudo? Quem me coordena?
Quem eu coordeno? Quem mais ordena?

Será que ainda contam com o povo?
Já tinham pensado nisto ou é algo novo?
Serei o único, ou alguém me escuta?
Todos governados por filhos da puta,
todos enganados por promessas falsas,
pedras nos sapatos que nunca descalças...

Zangado!
Revoltado!
Alienado!
Se não gostas de mim, aceito,
mas entende o meu conceito
de justiça social, não sensacional,
ou o que é ser simplesmente racional.
Quem tem voz
neste caos em nós?

Guerras de palavras, guerras com sangue,
fico mudo, receoso, atónito, exangue, 
rastos químicos, um bom ambiente,
mesmo que neguem está mais quente,
famílias monoparentais, vazias, a ocidente,
famílias a mais, a sobreviver, a oriente: gente...

Medicamentos, drogas recreativas,
mamas de plástico, drag queens e divas,
valores e morais, caídos em desuso,
descompensado porque não os recuso,
sugar daddy, mommy, ou seja lenocínio,
nada é mais perigoso do que ter raciocínio.

Geneticamente modificado, visando o lucro,
ciência e tecnologia de paradigmas, sem fulcro,
ouve o que eu digo, não o que eu faço, 
a hipocrisia é religião, sem embaraço,
a salvação virá, de modo eventual,
talvez haja alguma paz espiritual...

Zangado!
Revoltado!
Alienado!
Se não gostas de mim, aceito,
mas entende o meu conceito
de justiça social, não sensacional,
ou o que é ser simplesmente racional.
Qual a tua voz
neste caos em nós?

25/09/2025




https://pt.wikipedia.org/wiki/Caos_%28mitologia%29#/media/Ficheiro:Lotto_Capoferri_Magnum_Chaos.jpg


De novo deitado ao lugar escuro

De novo deitado ao lugar escuro,
poiso comum onde calado grito,
imóvel, mas em turbilhões reflito,
o quanto p'ra mim o destino é duro.

Não há lugar em que sinta seguro
o meu ser, nem neste bréu, neste rito,
onde a cada conclusão me hesito,
e a cada mão dada ergo um muro.

"Vai ficar tudo bem." - não acredito!
Não há essa paz que tanto procuro,
nada fica do que já tenhas dito.

"Acredita no teu coração puro,
não vês o quão consegues ser bonito?"
- não, calem-se, já não me/vos aturo!

25-09-2025

sábado, 13 de setembro de 2025

Não saias da tua sombra com pressa

Não saias da tua sombra com pressa
de ir para aquele raio de branca luz
que tanto a permite como seduz
a ignorar o que tanto te interessa.

Dou a minha ajuda sem que alguém peça
pois já estive ensombrado na cruz, 
sem comunicação, o que reduz
as chances de acabar, se não começa...

Porque não começar por abraçar
a escuridão que agora te rodeia?
Sim, dói, custa, mas tudo vai passar.

Sei bem a dor que está a ameaçar
a tua existência, nunca tão cheia
da cor que seguirá a te acalmar.

13/09/2025



sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Bem-vindo

Operante,
cooperante,
embora distante
despeço-me: 
adeus.

Enfim, 
não é para mim
isto assim,
talvez um nim
mas dos teus.

Espera,
desespera,
alma sincera;
degenera
quem sai aos seus.

Voa,
na boa,
à toa,
mesmo que doa
és dos meus.

Bem-vindo ao reino dos céus,
ou ao dos infernos?
Quem sabe?
...

05/09/2025

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Queres que eu tente?

Um rol de medos injustificados,
que se justificam na minha mente,
de novo perguntas se estou contente?,
não me vês no baile de alienados?

Certo, concedo, pois estamos parados,
vaiados no meio de toda a gente,
aparentemente é-nos indiferente,
tão corajosos como amedrontados.

Saberás que o manto, que mal assente, 
é rasgado de lado, atrás, à frente,
é só algo que já não nos conforta?

Um paramento novo? Queres que tente?
Presente, inconstante, vetusto, ausente,
é um poço, uma janela, uma porta?


04/09/2025