sexta-feira, 15 de junho de 2012

Agradecimento ao fim dos dias antes que seja impossível.

Dizem que um dia não são dias,
e uma noite não é um dia,
esta vida é um vê se te avias
mas outra vida aqui não havia,
e foi o dia e a noite veio
com a sua bruma e encanto
e um dia passou e nele creio
pois que virá outro dia entretanto
e este que passou foi irrepetível
e no entanto quero que se repita
esta dança dos dias a que sou sensível,
este ciclo, esta obra-prima infinita
até ao dia em que, na solidão,
o Mundo se veja despojado de povo
e os dias não serão os que nos dão
pois que ninguém verá nada de novo
e nesse dia, chamemos-lhe assim,
nem sequer teremos o pequeno conforto
de saber que o Mundo chegou ao fim
pois que nele tudo estará morto.

E essa novidade será linda e imaculada
pois não poderá ser sequer noticiada
pois não poderá ser sequer reflectida
pois que não mais entre nós haverá vida
e nesse Mundo novo sem haver viva alma
abundará a paz, a cordialidade e a calma
e o Mundo respirará finalmente de alívio
e a nossa sociedade só não cairá no oblívio
pois que ninguém haverá para a esquecer,
pois que ninguém poderá morrer ou nascer,
pois que tudo terá, enfim, um novo ritmar,
um sol soalheiro a pôr-se impoluto sobre o mar,
uma nuvem que chove chuva isenta de fatalidade,
o fim do manicaísmo, da mentira e da verdade,
da tristeza e da felicidade pois ninguém mais sente!
E eu que previ isto tudo fico, por o saber, contente!

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