sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Não me quero repetir

Não me quero repetir,
não te quero aborrecer,
mas o que estou a sentir,
e é tão estranho acontecer,
é algo que não cabe em mim,
que me infla demais o peito
como se fosse o inevitável fim,
como se fosse o início perfeito,
e não sei o que é isto!,
pois já por tanto passei
e há sempre algo nunca visto,
algo que nunca antes pensei...
E oscilo, pendularmente,
ora de uma tristeza fria,
ora de um calor de contente
e feitas as contas, sobra alegria!
E este outro nó na barriga
há já algum tempo escondido...
Sabes, nem sei que te diga,
é como se me tivesse esquecido
que são sempre estes os efeitos,
de alto astral e baixia de mar chão,
a visão isenta de defeitos,
a beleza pura da paixão,
a comoção, a sensibilidade,
o olhar cativo numa cativa,
pioneiramente repetida a saudade,
esta inesperada força viva,
este caixão destapado e vazio,
este jazigo soalheiro e abandonado,
este renascer do granito frio,
este sagrado feito de pecado,
este contentamento inesgotável,
esta dúvida constante persistente,
este síndrome que é tão estável,
esta doença que me faz tão carente...
E penso em ti a toda a hora:
"Onde estará? Como se sentirá?
Estará bem? O que faz agora?
Será parecido o que ela sentirá?".
Comove-me a beleza das flores,
sensibiliza-me o azul do céu,
alegra-me qualquer uma das cores,
é misteriosa a noite cor de bréu,
é tão agradável o amarelo do Sol,
é cristalino o verde azul do mar,
o listrado alvo-rubro dum farol,
a iridescente cor que é amar...
Amar... o que é tal sentimento?
A saudade esquecida retomada?
O clamor mudo, um tormento?
É tudo, é demais e será nada?!
Não, recuso acreditar que nada seja!
Pois já isto senti e julguei ido
até ao momento que a tua boca me beija...
Então tudo é vida e fico estarrecido,
toco o teu rosto, qual escultura,
pois sinto a tua mão, e sou camaleão,
tacteio a maior perfeição da natura
e percebo-te, pois o sinto, Pigmaleão
mas tenho mais sorte do que o teu mito,
este é de carne e osso e emana fervor,
e traço o rumo em que mais acredito,
e não preciso de outra deusa um favor
porque Afrodite é de quem tenho escrito!
Porque o destino tem sido favorável,
porque grego me verei nesta guerra
e lutarei até ser-me inevitável
cumprir o destino maior da Terra:
a sobrevivência! E quem ma permite
se não tu, frase-mistério de Canarim,
realismo surreal de Magritte,
ora fora, ora aqui, e nesse interim
houve tempo, e isto é inacreditável,
para um tudo completo que é nada,
para ver meio Mundo e descobrir
que basta uma face meia iluminada
que pára o tempo para o Sol abrir,
um soalheiro momento atemporal,
um vale de sonho que percorro,
a terra prometida, o mais fértil aral,
onde saltitando estes versos discorro
pois que haverá quem os leia,
pois que há a quem se destinam
e que não me liberta desta teia
em que recuso ser dos que procrastinam.
Chegou a hora, chegou a tempo,
chegou quando chegou e chegou forte,
não penses que chegou a contratempo,
chegou, talvez, por simples sorte
mas cá está, ca estás, e cá estou
e cá estamos e não descanso
porque uma vez já se conquistou
e acredito que o ainda alcanço.
E não vou dar mais voltas ao texto
porque é simples o que tenho a dizer,
não preciso de qualquer pretexto,
és tu quem me dás da vida o prazer
e é em ti que penso, por ti que anseio,
és tu quem quero, o sonho que reclamo!,
já foi mal uma vez mas apesar desse receio
como o posso esconder à única pessoa que amo?

23-7-2011

[aliás nem a ela nem a ninguém, nada a esconder ehehe]

Sem comentários:

Enviar um comentário