sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

SOBRE UM DIA...

O telemóvel vibra e diz "não te atrases".
Respondo "a ver se me despacho".
Sei que és olhada por todos os rapazes
mas só tens olhos para mim, então acho,
e despacho-me porque tu detestas
quando sou lento e me acomodo,
e nem resultam as minhas festas,
és obstinada sempre desse modo...
Mas "já saio" e apresso o passo
sempre com o coração acelerado,
ligas-me e roubas-me o espaço
que guardara para ficar preparado.
Consigo fazer tudo em simultâneo
mas a voz não é bem perceptível
e voo e ponho-me na estação instantâneo,
abre-se a porta e estás incrível,
como sempre, aliás, e emudeço
perante o que vejo e o que sinto...
Novamente erras no que te pareço
e nunca acreditas que não te minto;
"que se passa?" "nada" - respondo.
Semi-cerras os olhos desconfiada
e tens razão que algo de ti escondo,
a vontade de ti muito aumentada,
o olhar calmo a destilar desejo,
o observar da tua tez maquilhada,
o avançar confiante para um beijo,
o abraço para sentir-te mais perto,
o corpo alvo da minha intenção
e ter um sorriso único e aberto,
estudar cada tua singular reacção...
"onde vamos?", pergunta de retórica,
como se fosse diferente cada dia,
"não sei" diz a metade metafórica,
"nem eu" diz a metade da ironia,
e vamos sem rumo mas com sentido
e ponho a mão pela tua cintura,
"porta-te bem!" e acedo ao pedido
e logo subo lento mais um pouco,
então desço e o apelo é repetido;
sabes que este jogo deixa-me louco
mas sempre finges estar desatenta
até que subimos o lanço de escadas
e há algo que não mais se aguenta,
situações que se querem descontroladas...
"espera por mim" enquanto a tv ligo
e nem sequer reparo no que está a dar,
há só um objectivo que ora persigo
e que não consigo, se o queira, abrandar:
apresentas-te só de nylon escuro
e representas toda essa fantasia,
não tarda o próximo passo duro,
o pompom de coelhinha que extasia,
próximo, imponente e que descarto;
se é sempre o mesmo procedimento
por que é que dele nunca me farto?!
E aprecio ao máximo cada momento,
toco em tudo o que pode ser tocado,
observo a reacção, as expressões,
o corpo ligeiramente arrepiado,
a vontade inabalável, as sensações;
até em mim estudo este frenesim
e de súbito de mim te apoderas,
cima e baixo e "gostas assim?"
abrindo espaço para a imaginação
e faces de fúria, ternura e até dor
mas de uma inegável satisfação,
eterno se torna este "ai meu amor!"
e o gemido suave que se adensa
profundo, libidinoso e febril
como este calor da nossa pertença,
esta fusão de alegria primaveril
quando o olhar fica mais expressivo
e o teu grito se torna descontrolado,
como só contigo me sinto assim vivo,
como tudo fica etéreo e calado
e uns segundos são várias horas,
agora sorridentes e abraçados,
descansando já sem quaisquer demoras,
em beijos os sentimentos selados,
memórias construídas sem esforço...
Vamos preparar-nos para o teu regresso,
demoro-me ao ajudar o teu dorso
a receber o que sempre te peço;
demoras a retocar-te, exaustiva,
mas ficas de novo tão incrível
como de nariz empinado e altiva
como já antes tão apetecível...
e encaminhamo-nos para a saída,
escadaria interminável e exigente,
confessas-te (como eu aliás) exaurida
mas temos outro desafio pela frente:
corremos, que se tarda, à estação,
fazemos as contas ao último da linha,
"chegaremos a tempo?" é a preocupação
"claro que sim" e pego a tua mão na minha
e mais conscientes temos receio,
a nossa performance é dissimulada,
apesar de não ser pequeno o meio,
a nossa relação não foi oficializada
e vamos já pela escada rolante,
com os olhos sempre bem vigilantes,
vejo alguém mas está muito distante,
não há perigo e abraço-te como antes...
Afinal o autocarro ainda demora
e vou ter de passar mais tempo contigo,
com saudades antecipadas na hora,
então mais te abraço apesar do perigo
e não te apercebes, como lá no fundo,
não é por estar calado que não estou feliz...
Como eu gostava de dizer ao mundo
estou na companhia de que sempre quis!
Até quando temos de andar às escondidas
se é tão belo o que extravasamos,
que almas as nossas pairando perdidas
no campo de que mais desejamos
e que não é isto, não totalmente...
E tens de entrar e de ti me despeço
sozinho andando por entre a gente,
uma distância longa que a ti meço;
acenas, sorris, e fazes a curva,
aceno, sorrio e fico a meditar
na bela alva tarde, na despedida turva...
Ouço o meu bolso frio a tiritar
e a tua voz acompanha-me de novo;
irrita-me que nos túneis nada se entende
e tu só pensas que não te ligo um ovo,
entristeço porque tudo depende
da nossa pecepção de tudo.
E a casa estás quase a chegar,
estou triste mas sinto-me sortudo
apenas por teres em mim lugar!

Podes ter a certeza que te minto:
nunca disse o quanto me importas!
Infelizmente sei bem o que sinto
e senti, enfim, que de mim gostas...
Apesar do belo quadro que pinto
estão sempre voltadas as nossas costas
e dizem que o amor sempre vence
mas disso quem é que me convence?
Que o amor, de facto, sempre vence...

12-7-11

[ainda está para chegar quem consiga]

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